Mais produtivo do que comparar o desempenho do Brasil na Olimpíada de Paris em relação a edições anteriores é discutir como criar condições para o potencial dos atletas nacionais ser mais bem desenvolvido e isso se refletir em conquistas no futuro. O país terminou na 20ª posição, abaixo do 12º lugar de 2021, em Tóquio, o melhor desempenho obtido até hoje. Foram 20 medalhas, ante 21 no Japão, mas apenas três de ouro, contra sete há três anos.
Talentos esportivos seriam mais bem aproveitados e lapidados se existissem acesso, condições materiais e incentivo adequados
Ao longo das Olimpíadas, o Brasil dependeu muitas vezes de atletas com talento excepcional ou de uma geração espetacular para subir ao pódio. Além dos adversários, superou barreiras como o baixo investimento em modalidades menos populares e a estrutura precária, a não ser em ilhas de excelência. Talentos esportivos de norte a sul seriam mais bem aproveitados e lapidados se existissem acesso, condições materiais e incentivo apropriados. Além disso, esporte não é só competição. É saúde física e mental e oportunidade para os jovens, em especial das periferias, evitarem maus caminhos. Por ensinar disciplina e respeito às regras, também forma cidadãos.
No investimento houve alguma evolução. Novas fontes foram criadas, como leis de incentivo, embora sigam aquém do necessário. É ainda possível discutir o emprego das verbas. O Portal da Transparência no Esporte, da Universidade de Brasília (UnB), dá pistas sobre repasses federais diretos e indiretos. Ou seja, dinheiro do orçamento da União, incentivos tributários e patrocínios de estatais.
Os investimentos foram significativos antes da Olimpíada do Rio, em 2016, mas caíram depois. Entre 2017 e 2021, ficaram abaixo dos R$ 2 bilhões anuais. Em 2022, subiram para R$ 2,31 bilhões e, no ano passado, para R$ 3 bilhões. Deste total, foram R$ 1,4 bilhão para esportes de alto rendimento, R$ 1,6 bilhão para educação, lazer e inclusão social e somente R$ 39,7 milhões para infraestrutura. Sem ginásios, pistas e equipamentos adequados e em quantidade, a formação é dificultada. Escolas públicas deveriam contar com melhores instalações. Ademais, deve ser uma política de longo prazo, sem interrupções ou quedas bruscas de aportes que ameacem a continuidade do trabalho.
É preciso ainda ampliar e qualificar o Bolsa Atleta, principal programa federal para ajudar diretamente atletas de alto rendimento. Um ano antes do Rio, foram distribuídos R$ 71 milhões. Em 2017 e 2018, apenas R$ 15,5 milhões e R$ 12,1 milhões, respectivamente. O orçamento de 2024 é de R$ 162 milhões, para mais de 9 mil atletas. Contempla desde as categorias de base até medalhistas como Rebeca Andrade.
Como o esporte nem sempre é considerado prioridade, está entre as primeiras áreas a sofrer cortes quando a situação fiscal se deteriora. Seria desejável encontrar mais formas de viabilizar e ampliar o programa, com mecanismos que possibilitem maior participação privada, por exemplo. Um apoio maior deveria também ser direcionado para elevar o número de atletas da base. Da quantidade é mais fácil tirar a qualidade capaz de levar o país a se tornar uma potência olímpica.