Grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo e a Olimpíada, acompanhados com grande interesse pelos brasileiros, são uma oportunidade para a população deixar de lado por alguns dias os temas mais pesados e torcer pelo desempenho dos atletas nacionais. São acontecimentos que deveriam unir a sociedade, a despeito das diferenças existentes em qualquer coletividade. Não é o que acontece no Brasil, onde qualquer tema vira arena para a polarização desmedida e abre brechas para o exercício da demagogia.
A Olimpíada de Paris não foi capaz de estabelecer um instante de trégua na batalha ideológica brasileira
Aconteceu outra vez, agora com a Olimpíada de Paris. Um destes episódios teve início com uma desinformação e acabou com uma medida populista. Começou com a oposição acusando o governo federal de pretender taxar as medalhas e as premiações conquistadas pelos desportistas na França. Como se pagar imposto de renda por esses ganhos fosse novidade. Em vez de apenas esclarecer, o Planalto preferiu tentar tirar proveito político. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva correu para editar uma medida provisória e isentar os atletas de IR. Parece simpático. Mas trata-se de uma demagogia. Os esportistas brasileiros sequer pediam o benefício.
A isenção aos atletas que subiram ao pódio e orgulharam o país não vai impactar o déficit das contas nacionais. É algo ínfimo. Mas a atitude simboliza a forma como o Brasil, ao longo do tempo, foi desequilibrando as suas contas. Além do aumento de despesas, Executivo e Legislativo não se fazem de rogados quando surge a oportunidade de fazer agrado por meio de gastos tributários. Ocorre que, se alguém deixa de pagar o que deveria, a diferença será exigida do restante da sociedade, com mais impostos.
A iniciativa de Lula, antecipando-se a projetos de lei apresentados por deputados, retrata o uso recorrente do esporte para angariar apoio popular. São inúmeros os exemplos na história brasileira. A ditadura militar buscou capitalizar o sucesso da Seleção de 1970, na Copa do México. O então prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, comprou fuscas com verba pública para presentear os tricampeões.
A Olimpíada de Paris não foi capaz de estabelecer um instante de trégua na batalha ideológica brasileira. Enquanto petistas atribuem as medalhas ao Bolsa Atleta, criado na primeira gestão Lula, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro lembram que muitos da delegação nacional, como a judoca Beatriz Souza, que conquistou o ouro, são militares. Em 2021, Bolsonaro fez uma cerimônia para homenagear atletas militares laureados em Tóquio. Na segunda-feira, foi a vez de Lula tirar proveito e postar uma foto com a ginasta Rebeca Andrade. A designação da primeira-dama Rosângela Lula da Silva como representante do governo na França, com gastos de mais de R$ 200 mil de sua comitiva, também é controversa.
O espírito olímpico que permeia os jogos pressupõe respeito ao adversário e às normas do jogo. Não tem nenhuma relação com os sentimentos que alimentam a disputa política brasileira, na qual o oponente é visto como um inimigo a ser destruído e o oportunismo é regra.