A recuperação da economia gaúcha após as enchentes de maio só será integral se todas as empresas afetadas tiverem acesso aos recursos dos instrumentos oficiais de crédito anunciados. Caso contrário, não haverá alternativa a inúmeras companhias a não ser fechar as portas, com reflexos imediatos no nível de atividade, no emprego e na renda. Este é um cenário que deve ser evitado a todo custo.
Espera-se que o governo federal e o banco sejam sensíveis e enderecem a solução de entraves e a correção de regras
Por ser o grande agente financeiro do país na concessão de empréstimos a pessoas jurídicas, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem um papel fundamental no reerguimento do Estado. Deve-se reconhecer que a instituição, com o programa BNDES Emergencial, firmou um compromisso de ajuda com recursos significativos e condições especiais. São R$ 15 bilhões para três linhas. Para investimento e construção, por exemplo, a taxa de juro é de 0,6% ao mês, com até dois anos de carência e prazo de pagamento de 10 anos.
Mas é usual no Brasil que os benefícios de anúncios portentosos não cheguem na ponta conforme o necessário. No caso do Rio Grande do Sul, porém, trata-se do risco de uma onda de quebradeira. Mesmo que o BNDES tenha anunciado ajustes importantes, o programa segue aquém das necessidades dada a grande quantidade de empresas atingidas direta e indiretamente e a magnitude dos estragos e prejuízos.
Foram no sentido correto algumas modificações confirmadas pelo BNDES, como o remanejo de mais R$ 3,75 bilhões para a linha de capital de giro, a mais demandada pelas companhias, por ser uma espécie de oxigênio financeiro, fundamental para sobrevivência imediata e compromissos de curto prazo. Da mesma forma, acertou o banco ao admitir o uso do crédito para investimento em outros endereços. Afinal, se as empresas tiveram instalações alagadas, é natural e recomendável que busquem continuar suas operações em áreas mais seguras.
Ainda assim, há uma série de pontos que precisam ser revistos e até agora não foram atendidos. Entre eles está o conceito de atingido. Há companhias seriamente prejudicadas de forma indireta. Não foram inundadas, mas perderam faturamento e negócios por problemas logísticos com fornecedores e clientes. Essas ainda estão excluídas do programa do BNDES.
Outra questão inquietante, constatam as entidades empresariais, é o nível de exigência de garantias para o acesso ao crédito. É plausível que firmas do Vale do Taquari, atingido por uma sequência devastadora de três enchentes de grande escala, desorganizadas financeiramente e com bens destruídos, tenham dificuldade neste quesito. Há relatos de companhias que não necessitam do amparo oficial, mas foram agraciadas. O dinheiro deve ser direcionado para quem mais precisa. Da mesma forma, há queixas de demora na análise da documentação para os empréstimos.
São processos burocráticos até justificáveis em períodos normais. O Estado, porém, vive dias excepcionais, após a mais destruidora tragédia climática do país. Espera-se que o governo federal e o banco sejam sensíveis e enderecem a solução de entraves e a correção de regras. O tempo, nesta equação, é vital. O socorro que tarda a chegar pode ser fatal para empresas e os empregos que geram.