Merece ser saudada a informação divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que aponta um crescimento expressivo da quantidade de adolescentes entre 16 e 17 anos aptos a votar no pleito municipal de 2024. A boa notícia está no fato de que a alta reverte a tendência de queda de jovens desta faixa etária alistados observada desde a disputa de 2008, quando a Corte iniciou a série histórica.
É importante que, nesta transição para a vida adulta, compreendam melhor e valorizem a democracia
Segundo o TSE, são 1,8 milhão de adolescentes brasileiros habilitados a irem às urnas em outubro, avanço de 78% ante 2020. Deve-se ressaltar que, para este grupo, o voto é facultativo. Mesmo que o cadastramento tenha sido facilitado, com a possibilidade de encaminhar o título no site do TSE ou dos tribunais regionais, não existiria um acréscimo tão significativo se não refletisse, também, um interesse maior deste público por exercer a cidadania e ajudar a moldar o futuro de seus municípios.
Em 2008, eram 2,9 milhões de adolescentes entre 16 e 17 anos registrados. A quantidade foi caindo, até chegar a apenas 1 milhão em 2020, quando o fechamento físico dos cartórios eleitorais, por conta da pandemia, por certo também contribuiu para a retração. Será positivo para o país se o número continuar a subir nos próximos pleitos. Há bastante espaço. Afinal, é apenas 1,18% do eleitorado, mas 2,8% do total da população brasileira.
Precisa ser ressaltado que, na série histórica, o TSE não faz a comparação com as eleições gerais. Mas em 2022, após uma forte campanha do tribunal, a quantidade de eleitores de 16 a 17 anos aptos chegou a 2,1 milhões, ante 1,4 milhão em 2018. É outro dado a reforçar o entendimento de que o ato cívico de votar voltou a entusiasmar os adolescentes, após um período de certa apatia, que chegou a ser avaliado como reflexo da desilusão dos jovens com a política e os partidos.
O interesse maior deste público por influenciar na escolha de cargos públicos tem mais significados. É importante que, nesta transição para a vida adulta, compreendam melhor e valorizem a democracia e tenham conhecimento de seus direitos e deveres como cidadãos. É ainda a oportunidade para defender as causas em que acreditam. Ao serem mais ouvidos, podem influenciar o debate e inspirar políticas públicas. A consciência política os credencia inclusive a elevar a participação na atividade partidária, o que abre caminho para a renovação dos quadros das siglas, ajudando a oxigená-las e formando novos líderes.
Reportagem publicada em ZH em maio de 2022 sobre os motivos do desinteresse dos jovens pelo alistamento eleitoral mostrou que este estrato da população rechaçava, por exemplo, a agressividade das redes sociais. Assim, os jovens evitavam se posicionar por receio de virarem alvo do que se convencionou chamar de “cancelamento”. Por outro lado, mostravam interesse em pautas como educação, meio ambiente e racismo, entre outras. Ou seja, gostariam de debater, mas de forma construtiva e sem virulência. É um sinal de que o país pode ter, em seus jovens, a esperança de arrefecimento da radicalização no futuro, com maior disposição para tratar de propostas.