A magnitude da perda de vagas formais de emprego em maio no Estado e as incertezas em relação à plena retomada à frente indicam que o governo federal tem de permanecer atento à evolução do mercado de trabalho para recalibrar seus programas de apoio, caso o que foi anunciado até agora mostre-se insuficiente. Empregadores já vêm alertando para essa possibilidade.
Pode ser inevitável estender o programa emergencial para a manutenção de postos formais criado pelo governo federal
De acordo com o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o Rio Grande do Sul perdeu 22.180 postos com carteira assinada no mês da enchente. A indústria foi o setor mais afetado, com 6.586 vagas destruídas. Outros recortes despertam atenção. O ramo de bares e restaurantes perdeu 2.176 trabalhadores, metade de todo o segmento de serviços. Conforme a Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), empresas das áreas de cultura e entretenimento no Estado tiveram uma demissão líquida de 2.107 trabalhadores. Gramado, na Serra, foi o quarto município gaúcho com a maior perda de empregos – 918 dispensados.
Setores de gastronomia, eventos e turismo dependem em boa medida da volta dos pousos e decolagens no aeroporto Salgado Filho. Como não há certeza de quando isso ocorrerá, pode ser inevitável estender o programa emergencial para a manutenção de postos formais criado pelo governo federal, previsto para apenas julho e agosto, com o pagamento de um salário mínimo mensal. A contrapartida das empresas é manter o trabalhador na vaga por ao menos mais dois meses. Foi sensata a decisão comunicada na terça-feira de ampliar o prazo de adesão até o próximo dia 12.
Talvez seja necessário também rever os critérios para enquadramento no programa. Por enquanto, informa o governo, ele está condicionado “à localização dos estabelecimentos dos empregadores em áreas efetivamente atingidas na mancha de inundação delimitada por georreferenciamento nos municípios em estado de calamidade ou situação de emergência reconhecidos pelo governo federal”. Há negócios que não sofreram com alagamentos, mas padecem dos reflexos da cheia, como o fechamento do aeroporto da Capital ou outros problemas de logística. Não é prudente também descartar novas medidas.
Idêntico raciocínio é válido para acessar recursos do pacote de R$ 15 bilhões em crédito com condições especiais anunciado pelo BNDES. Existem empresas que não foram tomadas pelas águas, mas indiretamente amargam consequências significativas. Assim, aguarda-se que possam ser analisadas outras condicionantes. Uma delas pode ser a perda de faturamento, como já foi sugerido. Ainda não há, por parte do governo federal, resposta à demanda.
O IBGE mostrou ontem que a produção da indústria nacional, em maio, teve queda de 0,9%, influenciada pelo desempenho das fábricas gaúchas. Conforme a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), o desempenho do setor teve queda de 11,8% ante abril. É bem possível que os resultados de junho ainda indiquem recuperação penosa da atividade.