O Brasil celebra hoje os 30 anos do Plano Real. Trata-se de uma efeméride que não deve servir apenas para exaltar o conjunto de reformas que estabilizou a moeda e pôs fim a décadas de hiperinflação. Ou mesmo para somente renovar o reconhecimento aos artífices de uma conquista do povo brasileiro. Ao rememorar o passado, ressurge a oportunidade de reforçar a importância de a sociedade permanecer vigilante para nunca mais ser permitida a volta da escalada sem controle de preços.
Deve-se lembrar que alta desenfreada de preços funciona como um imposto cruel a onerar em especial os mais pobres
O dia 1º de julho de 1994 marcou o início da circulação do real. Mas o plano gestado no governo Itamar Franco, sob o comando de Fernando Henrique Cardoso no Ministério da Fazenda, teve etapas anteriores. Primeiro, um ajuste fiscal que perseguiu o corte de despesas e o aumento da arrecadação, seguido pelo lançamento da Unidade Referencial de Valor (URV), uma engenhosidade que funcionava como indexador. Ao fim, depois de cinco tentativas frustradas de domar a inflação galopante após a redemocratização do país, finalmente o Brasil conquistava a estabilidade monetária. Sem choques abruptos que desorganizavam a economia, tabelamentos ou perversidades com os cidadãos, como o confisco da poupança.
Encerrava-se o período da remarcação diária de preços, da corrosão em velocidade alucinante do poder de compra da renda dos brasileiros, da ida constante às agências bancárias para preservar o valor dos salários e da corrida aos supermercados para fazer rancho. Três décadas depois, o Brasil tem uma geração de adultos que desconhece as atribulações de uma hiperinflação. Basta lembrar que, em 1993, a inflação acumulada foi de 2.477%. Em junho de 1994, atingiu 4.922% em 12 meses.
O Plano Real trouxe a inflação para patamares civilizados e permitiu a famílias e empresas a possibilidade de um planejamento financeiro sem sobressaltos constantes. Deve-se lembrar que a alta desenfreada de preços funciona como um imposto cruel a onerar em especial os mais pobres, sem acesso a instrumentos financeiros que protejam os seus recursos. No início, a mudança gerou uma explosão de consumo de itens básicos, como alimentos. A carne de frango a R$ 1 o quilo é um símbolo da época.
Assim, o Plano Real também deve ser lembrado como uma conquista social e uma base sólida para outros avanços que vieram nos anos posteriores. O Brasil e os brasileiros, no entanto, merecem e têm capacidade para mais. Ainda se faz necessário prosseguir com novas reformas e aperfeiçoamentos institucionais que permitam ao país alcançar maiores níveis de desenvolvimento. Após décadas de impasse, a simplificação do sistema tributário, em fase de regulamentação, carrega o potencial de alavancar a produtividade e a competitividade do país. Mas tarda a hora de encarar uma verdadeira reforma administrativa. Ainda há a necessidade de um compromisso mais firme com a responsabilidade das contas do país. Os ventos das políticas fiscal e monetária devem soprar para o mesmo lado. São fatores que, no futuro, podem fazer o Brasil também ter juros em patamares civilizados, como é hoje com a inflação.