Em quantidade de CNPJs, os setores de serviços e do comércio foram os mais afetados pelas inundações de maio no Estado. São segmentos capilarizados e bastante diversificados. Concentram o maior número de empresas e de postos de trabalho. É onde está a imensa maioria de empreendedores gaúchos, em especial os de menor porte.
Pelo peso na economia e pela importância social, os negócios dos ramos de serviços e comércio afetados pelas cheias são merecedores de um olhar especial
Pelo peso na economia e pela importância social, os negócios dos ramos de serviços e comércio afetados pelas cheias são merecedores de um olhar especial. Tanto em relação às medidas governamentais destinadas a dar fôlego no momento mais crítico, como em relação às necessárias para garantir a continuidade de suas atividades ao longo do tempo, recuperando-se das perdas causadas pelo período sem poder atender clientes e pelos estragos em instalações, mercadorias e estoques. Em resumo, isso significa que precisam conseguir acessar, sem entraves, programas para manutenção de empregos e os financiamentos prometidos para capital de giro emergencial e para investimentos. Neste momento de superação, o amparo de organizações como o Sebrae também é essencial na orientação sobre aspectos relacionados a gestão.
No cálculo do PIB do Rio Grande do Sul, apurado pelo Departamento de Economia e Estatística do Estado, o comércio é englobado pelos serviços. Era um macrossetor que vinha performando bem, graças à melhora na renda das famílias, ao desemprego em queda e à inflação controlada. No ano passado, cresceu 2,7%, acima da média nacional de 2,4%. Foi um avanço superior ao crescimento da economia gaúcha como um todo em 2023, da ordem de 1,7%. Em 2022, os serviços no Rio Grande do Sul também apresentaram um avanço forte, de 3,7%.
A hecatombe das enchentes espalhou incertezas. A Região Metropolitana, que concentra a maior parte da economia do Estado, foi severamente castigada. Comércios, tomados pela água, tiveram de fechar e não conseguiram, por exemplo, aproveitar de forma adequada o Dia das Mães, uma das melhores datas do varejo. O Dia dos Namorados, outra passagem importante, também chegou com os lojistas ainda tentando se reerguer.
Setores como hotelaria e eventos, afetados ainda pelo fechamento do Salgado Filho, igualmente sofreram um revés pesado. A Serra, principal região turística, deixou de receber um grande contingente de visitantes. No final do mês passado, a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no RS calculava perdas na ordem de R$ 1,7 bilhão, com 70 estabelecimentos de portas cerradas. A área de gastronomia na orla do Guaíba e o segmento de inovação e tecnologia em zonas como o 4º Distrito, na Capital, também foram abalados. A impossibilidade de o trensurb chegar a Porto Alegre é outro fator de preocupação, limitando o deslocamento de trabalhadores e consumidores.
Em meados do mês passado, a prefeitura da Capital estimava que 45 mil empresas foram afetadas pela cheia na cidade. Os mais atingidos foram os negócios dos ramos de serviços (29 mil) e comércio (11,3 mil). Outro levantamento, da Fecomércio-RS, também na metade de maio, projetou que, nos 46 municípios que estavam em situação de calamidade pública, seriam ao menos 54,5 mil CNPJs de comércio de bens e serviços impactados pelos alagamentos. A quantidade de cidades com situação de calamidade reconhecida hoje é de 95. Supõe-se que o número de estabelecimentos afetados, portanto, seja bem maior.
Os setores de comércio e serviços são formados em sua esmagadora maioria por empreendedores de menor tamanho, mas que juntos formam uma significativa parcela do tecido econômico do Estado. Em importância, são grandes. Conforme forem superando as adversidades impostas pelas enchentes, serão protagonistas da retomada econômica do Rio Grande do Sul.