Agem de acordo com os legítimos interesses da região os governos do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná ao encomendarem um estudo para melhor dimensionar a demanda por transporte ferroviário nos três Estados. A definição ocorreu no final da semana passada, em um encontro em Curitiba com a participação do vice-governador gaúcho, Gabriel Souza, que vem tomando a frente em relação ao tema no Piratini.
Governo gaúcho e entidades empresariais têm firmado posição de que a manutenção do quadro atual não é aceitável
O levantamento deve demonstrar a real necessidade em termos de oferta de locomotivas e vagões e de recuperação da rede ferroviária. Ao que parece, as queixas quanto à paulatina redução dos serviços pela concessionária Rumo, que explora a malha sul, não se resumem ao Estado. No Rio Grande do Sul, o volume transportado vem caindo ano a ano, como já mostraram diversas reportagens publicadas desde a década passada por Zero Hora. Dos 3,2 mil quilômetros de estradas de ferro originalmente recebidos na época da concessão, em 1997, cerca da metade não está em uso. As locomotivas e vagões disponíveis são antigos, com menor produtividade.
A malha sul, além de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, engloba São Paulo. É no território paulista que a concessionária tem priorizado os investimentos. Ocorre que, neste momento, discutem-se os termos da possível renovação do contrato de exploração, que vence em 2026. Governo gaúcho e entidades empresariais têm firmado posição de que a manutenção do quadro atual não é aceitável.
Está correta a estratégia do Rio Grande do Sul de somar forças com Santa Catarina e Paraná para pressionar o governo federal e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em relação aos termos de uma possível renovação da concessão. Nos três Estados existem reclamações quanto ao subaproveitamento da malha.
A situação vigente traz prejuízos para a economia gaúcha. A posição geográfica do Estado, no extremo sul do país, faz da logística um aspecto essencial para a competitividade. O transporte ferroviário tem custos menores do que o rodoviário, em especial para distâncias maiores. Além dos grãos, o Rio Grande do Sul e os demais vizinhos do Sul são fortes em proteína animal, cargas que também poderiam ser conduzidas a outras regiões do país e a terminais de exportação com vantagens econômicas. O transporte de soja do interior do Estado para o Porto de Rio Grande e o retorno com fertilizantes, da mesma forma, têm potencial muito acima do que é movimentado atualmente. Utilizar mais os trens significa ainda ter estradas já saturadas com menos caminhões, fator que também contribui para a segurança dos demais usuários e desgasta menos as rodovias.
Em 2011, o volume movimentado por ferrovias gaúchas foi de 14 milhões de toneladas. Em 2021, foram apenas 3 milhões de toneladas. Nesse mesmo período, conforme a ANTT, em todo o Brasil a carga transportada subiu 11%, para 506 milhões de toneladas. Não é possível apenas assistir passivamente ao Estado ficar na contramão do transporte ferroviário no país.