Um dos obstáculos para o país ter um futuro de maior crescimento econômico e menor desigualdade está na grande parcela de jovens que não estuda e não trabalha. É um contingente conhecido como “nem-nem”. As informações do módulo anual sobre educação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do IBGE, divulgadas na sexta-feira, trouxeram novos números para esse preocupante fenômeno. A notícia positiva é que o percentual caiu nos últimos anos. Mas ainda é alto demais e seria preciso acelerar o ritmo de queda.
São pessoas que não estão se preparando para uma futura vida profissional nem inseridas na economia
Conforme o IBGE, 19,8% dos brasileiros entre 15 e 29 anos não estudavam nem trabalhavam em 2023. O percentual era de 20% em 2022 e de 22,4% em 2020. O Rio Grande do Sul está em uma situação bem melhor. No ano passado, entre os gaúchos dessa faixa etária, 12,6% eram “nem-nem”, o segundo menor percentual do país. Ainda assim, o Estado não deve se dar por satisfeito e tem de buscar formas de calibrar as políticas públicas para melhor combater essa chaga social.
De acordo com a pesquisadora do IBGE Adriana Beriguy, responsável pelo trabalho, a principal razão para a diminuição do grupo nos últimos anos foi a absorção pelo mercado de trabalho. Ou seja, não foi a escola. O ideal seria que os jovens continuassem pelo maior tempo possível os estudos, para depois, mais qualificados e instruídos, estarem aptos para conseguir melhor colocação, com renda digna.
Os jovens “nem-nem” são pessoas que não estão se preparando para uma futura vida profissional nem inseridas na economia. Ao fim, essa situação causa um impacto não apenas para si e suas famílias, mas para o próprio país. É potencial desperdiçado. Mesmo que um dia venham a obter uma colocação, serão sujeitos menos produtivos, acabarão mal remunerados e terão uma vida útil menor no mercado de trabalho. Dessa forma, tendem a contribuir para perpetuar o ciclo de desigualdade, ou ao menos fazer com que o país como um todo avance menos do que deveria em seu desenvolvimento. Diversas pesquisas vêm tentando estimar o quanto de riqueza o país deixa de produzir devido a esse cenário. Utilizando parâmetros diferentes, como a idade de 18 a 24 anos, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) calculou, no início do ano, que o PIB brasileiro em 2022 poderia ter tido um incremento de R$ 46,3 bilhões caso todo esse grupo estivesse inserido na economia.
Os recortes do trabalho do IBGE, aliás, mostram a repetição das assimetrias sociais conhecidas. Entre as mulheres jovens o percentual da população chega a 25,6%, enquanto o dos homens cai para 14,2%. Entre elas, a gravidez precoce é uma das principais razões. Outro detalhamento indica que entre pretos e pardos o percentual “nem-nem” sobe para 22,4%, enquanto para os branco é reduzido para 15,8%.
A solução para esse panorama desolador é complexa. Passa pela qualificação do ensino público e por esforços para evitar a evasão escolar. São positivas, nesse sentido, iniciativas como o recém-lançado programa Pé-de-Meia, do governo federal, voltado a alunos do Ensino Médio oriundos de lares beneficiados pelo Bolsa Família. Eles recebem um incentivo mensal de R$ 200, mais R$ 1 mil a cada fim de ano letivo, para permanecerem na sala de aula. É o mesmo espírito do Todo Jovem na Escola, do governo gaúcho, que já beneficiou, pelas contas do Palácio Piratini, cerca de 160 mil estudantes do Ensino Médio.
Programas do gênero colaboram, mas não são o suficiente. Também há evasão no Ensino Fundamental. De outro lado, a qualidade do ensino público também é imprescindível para que os jovens consigam se preparar melhor para o mundo do trabalho. É importante ainda manter a estabilidade macroeconômica, evitando crises que muitas vezes fazem crianças e jovens abandonarem a escola para ajudar no sustento imediato das famílias. Diminuir de forma relevante o contingente “nem-nem” significa dar expectativa de futuro digno e de cidadania para um grande número de jovens e aumentar as chances de o país encontrar o caminho de um progresso mais inclusivo.