São recorrentes os alertas de economistas de que um dos obstáculos para um crescimento mais robusto e sustentável da atividade no Brasil é a baixa produtividade do trabalho. Diferentes análises apontam uma estagnação desse indicador há cerca de três décadas. As comparações com outras nações também costumam mostrar a situação de desvantagem local. Um trabalho publicado no ano passado pela escola de educação executiva suíça IMD (sigla de Institute for Management Development) ilustra o quadro. Entre 64 países analisados, o Brasil estava na 61ª posição em produtividade da força de trabalho.
Diferentes análises apontam uma estagnação desse indicador há cerca de três décadas no país
Especializado em economia e negócios, o jornal Valor publicou na sexta-feira os dados mais recentes do acompanhamento feito desta questão pelo Observatório da Produtividade Regis Bonelli, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). As informações trazem esperanças. Conforme o levantamento, no ano passado a produtividade da economia brasileira por hora efetivamente trabalhada cresceu 1,9% sobre 2022. Foi o primeiro avanço após dois anos. Em 2020 os resultados também foram positivos, mas distorcidos por intercorrências causadas pela pandemia, em especial pela saída do mercado de trabalhadores de produtividade mais baixa, como os informais e os de escolaridade menor.
De acordo com os pesquisadores, a safra agropecuária recorde contribuiu para a alta do índice em 2023, mas a maior formalização do mercado de trabalho e a alta na ocupação na mão de obra com maior grau de instrução também concorreram para o resultado. É uma obviedade que capital humano com maior escolaridade produz mais riqueza do que aqueles que, por qualquer razão, não foram beneficiados por uma educação de qualidade. A produtividade na indústria, por exemplo, subiu 2% ante 2023, ante queda de 4,7% em 2022. No caso dos serviços, o avanço foi ínfimo, de 0,1%, mas também reverteu resultado negativo do ano anterior (-5,1%).
Outra constatação que pode indicar uma melhora mais sustentável do rendimento por hora efetivamente trabalhada está no fato de que as ocupações formalizadas, em janeiro deste ano, estavam em um nível 9,7% acima da época anterior à pandemia da covid-19. A informalidade, no entanto, aparecia em um patamar somente 1% superior. O trabalho formal é mais produtivo.
Esses são alguns indicativos que podem fazer com que a produtividade siga em alta neste ano, mesmo que a tendência seja de desacelerar devido a fatores como safra menor e PIB em ritmo mais acanhado. Há ainda outros aspectos que merecem melhor análise no futuro, como os efeitos das várias reformas executadas no país nos últimos anos, como a trabalhista e a da Previdência. O emprego com carteira assinada começou o ano com surpresas positivas. Divulgado na sexta-feira, o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou o primeiro mês de 2024 com uma abertura líquida de vagas com carteira assinada superior a 180 mil, quase o dobro da expectativa do mercado. Espera-se que, de fato, existam razões estruturais e não apenas conjunturais na melhora da produtividade.
O acompanhamento mais a longo prazo vai demonstrar se o país entrou em uma era de produtividade crescente ou se 2023 foi apenas um soluço. A reforma tributária pode dar novo impulso nas próximas décadas. Mas ainda há desafios importantes à frente. Entre eles, fazer com que o aumento da oferta de ensino seja acompanhado de qualidade na aprendizagem. De outro lado, a produtividade da economia também depende de um acréscimo substancial do nível de investimentos no país nos próximos anos, fator que decepcionou no ano passado.