Desperta atenção o desempenho das micro e pequenas empresas (MPEs) no fortalecimento do mercado de trabalho no Rio Grande do Sul no ano passado. Os negócios de menor porte fecharam 2023 com um saldo positivo de 50,9 mil vagas com carteira assinada. Assim, compensaram a performance fraca das médias e grandes companhias, que encerraram o exercício anterior com a perda de 6,8 mil postos. No balanço entre todos os tipos de empregadores, o Estado encerrou o ano passado com 47,4 mil posições formais criadas. Os dados fazem parte de um levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), esmiuçado em reportagem de Anderson Aires publicada ontem em Zero Hora.
Os negócios de menor porte fecharam 2023 com um saldo positivo de 50,9 mil vagas com carteira assinada no RS
As micro e pequenas empresas são a porta de entrada do empreendedorismo. É por meio delas que um grande número de gaúchos e de brasileiros tenta criar o próprio trabalho, se estabelecer e crescer. Quando a jornada é bem-sucedida, a tendência é de que consigam ampliar os negócios e, assim, também gerar mais empregos. Não é novidade o fato de as MPEs serem responsáveis pela maior parte dos postos de trabalho no país. Mas quando puxam a criação de postos indicam que a situação econômica brasileira, mesmo com solavancos aqui e ali, passa por um momento positivo. No país, as micro e pequenas empresas foram responsáveis por 80% dos empregos com carteira assinada abertos no ano passado.
Existem basicamente dois tipos de empreendedorismo. O por necessidade ocorre, por exemplo, quando a pessoa perde o emprego e, sem alternativa e quase nenhum planejamento, cria um negócio para buscar renda. O outro é o por oportunidade, quando se vislumbra previamente a possibilidade de preencher um espaço de mercado existente e pouco explorado. Nesse caso, geralmente já há um plano de voo estabelecido e conhecimento da área prospectada, elevando as chances de sucesso.
Os últimos três anos são de recuperação da atividade após o baque causado pela pandemia da covid-19. Os resultados dos empregos gerados indicam que, a despeito de dificuldades ainda existentes, como endividamento e juro alto, o tecido econômico se recupera. Mas há outro aspecto a ser analisado. Se por um lado as MPE tiveram um 2023 com boa performance na criação de empregos no Estado, as médias e grandes fecharam postos de trabalho. É preciso compreender o que se passou. Afinal, a economia é um sistema de vasos comunicantes, e as maiores companhias muitas vezes são clientes das menores.
O prosseguimento do bom momento depende também do equilíbrio macroeconômico e de um ambiente de negócios favorável. Assim, sempre é preciso lembrar a importância da busca do equilíbrio fiscal no país, para manter a inflação comportada e assegurar a continuidade da queda do juro e a disponibilidade de crédito em condições mais favoráveis. As MPE, muitas vezes, sofrem mais com mudanças abruptas de cenário. Quando o horizonte parece ser positivo, há maior propensão para investir, se expandir e arriscar. Dessa forma, é basilar manter a previsibilidade, ao mesmo tempo que é necessário buscar constantemente formas de diminuir a burocracia e oferecer capacitação. Tanto para quem quer arregaçar as mangas para se aventurar no mundo do empreendedorismo como para quem está estabelecido e pretende crescer, contribuindo para o desenvolvimento do Estado e do país.