Dados do Atlas Digital de Desastres do Brasil mostram que, entre 1991 e 2022, o Rio Grande do Sul teve mais de 7,5 mil eventos naturais do gênero em seus municípios. O número representa 12% do total contabilizado no país e põe o Estado como a segunda unidade da federação com a maior quantidade de estiagens, secas, enxurradas, inundações, vendavais e outros acontecimentos causados pela fúria da natureza e variações climáticas.
Novos prognósticos meteorológicos apontam para a possibilidade de retorno do La Niña no segundo semestre
Desde meados do ano passado, já fora do período analisado, os gaúchos sofrem mais com as consequências de precipitações torrenciais e excessivas. Mas 47% dos desastres contabilizados no levantamento da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil nas últimas três décadas se referem a reflexos da falta de chuva – secas e estiagens.
Se hoje o Rio Grande do Sul padece com os impactos do El Niño, até o início do ano passado era o La Niña que afetava o Estado, causando perdas substanciais à agropecuária e efeitos devastadores na renda dos produtores e no PIB gaúcho. Agora, novos prognósticos meteorológicos apontam para a possibilidade de retorno do La Niña no segundo semestre. Volta o risco, portanto, de o sul do país ser mais uma vez castigado pela escassez de chuva.
Essa circunstância força o poder público e a sociedade gaúcha a voltarem a dar prioridade para o tema da irrigação. Até porque estiagens são recorrentes no Estado. O tema, sabe-se bem, tem discussões acaloradas a cada seca, mas, quando volta a chover, sai das prioridades.
O novo presidente da Assembleia gaúcha, Adolfo Brito (PP), assumiu o posto, no último dia 31, reafirmando que a prioridade de seu mandato na Casa será construir uma política robusta de irrigação e reservação de água para o Rio Grande do Sul. Em suas palavras, um plano que seja de Estado, não de governo. Como parlamentar experimentado, o mais longevo do Palácio Farroupilha, é possível crer que possa ter sucesso nas articulações para ajudar o Estado a avançar neste ponto estratégico. Conforme Brito, a proteção ao ambiente não será negligenciada e o arcabouço será negociado com todas as instituições envolvidas no tema.
Oriundo da área ambiental no Ministério Público, o procurador-geral de Justiça do Rio Grande do Sul, Alexandre Saltz, se comprometeu a colaborar. Há alguns anos o Estado vive um impasse em torno da construção de açudes e barragens devido a obstáculos legais. Aguarda-se que exista real disposição ao diálogo para que se encontrem espaços para elevar a área irrigada no Estado, conciliando interesses econômicos e preservação. Uma das polêmicas sobre o assunto é a viabilidade de formar reservatórios em Áreas de Proteção Permanente (APP). Há outros gargalos a serem resolvidos, como financiamento em condições compatíveis para a aquisição de equipamentos e disponibilidade de energia adequada em áreas rurais.
A falta de chuvas tem legado prejuízos bilionários ao Rio Grande do Sul. Nos quatro verões anteriores, foram três estiagens. Calcula-se que apenas 12% da área de milho seja irrigada no Estado. No caso da soja, somente 3%. Mas irrigação, deve-se lembrar, não é importante apenas para evitar quebra de safra. Disponibilidade de água na hora certa garante alta produtividade. É relevante mesmo em períodos em que não são registradas estiagens. Chover bastante não é exatamente sinônimo de precipitações regulares e bem distribuídas.