O país vive um período de explosão de casos de dengue e todas as previsões indicam que o quadro tende a se agravar nos próximos meses. O início da vacinação pode ser a esperança de maior controle no futuro, mas, por enquanto, com a quantidade de doses disponíveis muito aquém da necessidade, é preciso reforçar a importância de a população se engajar nos esforços para conter o avanço da doença.
A tarefa de combate à doença depende também de um esforço para levar informação e esclarecimento às comunidades
A colaboração esperada da população é especialmente cuidar para não deixar água se acumular em recipientes em suas residências. É onde a fêmea do mosquito Aedes aegypti, transmissor da enfermidade, põe seus ovos e onde as larvas se desenvolvem. Conforme o Ministério da Saúde, cerca de 75% dos focos do inseto estão dentro das casas. Mesmo assim, a ajuda de agentes preparados para o enfrentamento à dengue é essencial.
Em entrevista ao Atualidade, da Rádio Gaúcha, na sexta-feira, o secretário de Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter, lamentou a grande resistência de moradores da Capital em receber os agentes comunitários de saúde e de combate a endemias. São profissionais, lembrou o gestor, treinados para identificar os criadouros em pontos nos quais muitas vezes os donos das casas não percebem, mesmo quando têm a boa vontade de procurar. A grande maioria dos criadouros do Aedes aegypti é encontrada em pequenos recipientes – como garrafas, pneus, vasos de plantas e até tampinhas.
Essa desconfiança, é possível supor, deve se repetir em outras cidades gaúchas e mesmo no restante do país. É natural que cidadãos tenham receio de abrir as portas de seus lares a pessoas que não conhecem por medo de serem vítimas de crimes. No caso de Porto Alegre, os agentes estão identificados com o colete azul característico e crachá. É possível ainda ligar para o número 156, da prefeitura, para checar a identificação do funcionário.
Espera-se, da mesma forma, que as demais cidades se esforcem para explicar a importância do trabalho dos agentes e informem como a população pode ter a tranquilidade de que se trata de agentes públicos. A tarefa de combate à dengue, portanto, depende também de um esforço para levar informação, conscientização e esclarecimento às comunidades. Outra recomendação a ser reforçada é a importância de procurar serviços locais de saúde assim que surgirem sintomas compatíveis, como febre alta e dores de cabeça, atrás dos olhos e nas articulações.
O Ministério da Saúde iniciou na quinta-feira a distribuição das primeiras doses da vacina contra a dengue, mas o Rio Grande do Sul não está entre os Estados contemplados por não preencher os critérios definidos pela pasta para decidir as prioridades. Por enquanto, o público-alvo é o de crianças entre 10 e 14 anos, escolhido também por métricas técnicas. O laboratório japonês Takeda, fabricante do imunizante Qdenga, conseguirá entregar neste ano ao governo federal somente 6,5 milhões de doses, muito abaixo da necessidade.
Uma notícia promissora, para o futuro próximo, é a vacina de dose única do Instituto Butantan, prestes a ter os ensaios clínicos finalizados para ser submetida à aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e depois disponibilizada para a população pelo SUS. O fármaco do Butantan, no entanto, deve começar a ser aplicado somente em 2025. A proteção contra a doença foi incluída no ano passado no Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Na sexta-feira, o painel do Ministério da Saúde indicava 395 mil casos prováveis de dengue no país até a quinta semana epidemiológica, quatro vezes mais do que igual período do ano passado. O calor dos últimos meses, associado ao grande volume de precipitações em algumas regiões, facilita a proliferação do mosquito. Assim, neste momento, a principal estratégia para impedir uma escalada ainda maior da doença é a prevenção à multiplicação do Aedes aegypti.