A importância da matemática como fator que eleva a renda e potencializa o desenvolvimento apareceu em mais um trabalho publicado nesta semana. As conclusões do estudo Contribuição da Matemática para a Economia Brasileira reforçam a premência de um salto no ensino dessa área do conhecimento. Sabe-se que o desempenho dos estudantes do país, medido em diversas avaliações de aprendizagem, ainda deixa muito a desejar. O quadro torna-se ainda mais preocupante quando há o cotejo com a performance de alunos de outras nações.
O desafio brasileiro é encontrar novas formas de ensinar matemática desde os anos iniciais, capacitando educadores e tornando a aprendizagem mais prazerosa
O estudo realizado pelo Itaú Social com o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) traz achados eloquentes. Os dados mostram, por exemplo, que o rendimento médio dos profissionais de áreas onde ter domínio de matemática é essencial foi de R$ 3.520 no terceiro trimestre de 2023, valor 119% superior às demais ocupações. As funções analisadas são de campos como engenharia, arquitetura, tecnologia da informação e serviços financeiros e contábeis, entre outros.
Há outras descobertas. As profissões ligadas a habilidades com a matemática têm um grau de formalidade de 84%, ante uma média nacional de 67%, conforme informações extraídas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua também do terceiro trimestre de 2023. Além disso, são vagas mais resilientes em momentos de crise. Durante a pandemia, postos de trabalho intensivos em matemática tiveram uma retração de 6,8%, ante 13,1% nas demais ocupações. Entre todos os trabalhadores do Brasil, 7,4% atuam em segmentos vinculados à matemática, um percentual inferior em relação aos países europeus (10%).
Melhorar o ensino de matemática, portanto, é um caminho para o desenvolvimento pessoal e do próprio país. Mas há um enorme atraso a ser superado. Os resultados da mais recente edição do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), divulgados em dezembro a partir de provas aplicadas em 2022, são inquietantes. Na avaliação de matemática, o Brasil ficou na 65ª colocação entre 81 nações.
É um resultado preocupante para um país que cresceu menos do que a média mundial nas últimas décadas e, portanto, tem de melhorar bastante o seu desempenho na educação para recuperar posições na corrida global pelo desenvolvimento em tempos de transformações tecnológicas em altíssima velocidade. O Estado, da mesma forma, tem muito a evoluir. Em abril do ano passado, o governo gaúcho divulgou os resultados das provas do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Rio Grande do Sul (Saers). Na rede pública, 96% dos estudantes do 3º ano do Ensino Médio não tiveram desempenho considerado adequado em matemática.
O desafio brasileiro é encontrar novas formas de ensinar matemática desde os anos iniciais, capacitando educadores e tornando a aprendizagem mais prazerosa. Encontrar esse caminho vai significar colocar o país na trilha das nações que poderão ser protagonistas na economia da era do conhecimento, em que a inovação e a tecnologia, em suas diversas subdivisões e fronteiras, como a inteligência artificial, são cada vez mais motores do progresso. Caso contrário, a conta não vai fechar para o Brasil.