O Brasil acompanhou na última quinta-feira uma celebração discreta, mas repleta de simbolismos, da sua data oficial de Independência. Em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva presidiu o desfile cívico-militar de 7 de Setembro e posou para fotografias juntamente com o ministro José Múcio, da Defesa, e com os comandantes das Forças Armadas, Tomas Ribeiro Paiva, do Exército; Marcelo Kanitz Damasceno, da Aeronáutica; e Marcos Sampaio Olsen, da Marinha. A cerimônia teve pouco público, muito cuidado com a segurança das autoridades e praticamente nenhuma alusão à polarização política decorrente das últimas eleições presidenciais.
O importante é que a celebração dos 201 anos da Independência do Brasil transcorreu de forma pacífica
Ainda assim, o desfile da Capital Federal foi emblemático por vários motivos. O primeiro deles foi, sem dúvida, a demonstração de convivência respeitosa entre o chefe da nação e os comandantes militares, superando o estremecimento causado pelo envolvimento de oficiais e soldados com a política na administração anterior. Agora, como é desejável e republicano, as Forças Armadas parecem estar novamente concentradas no seu papel precípuo, que é defender a pátria, garantir os poderes constitucionais, a ordem e a lei – como é apropriado numa democracia.
Outra significativa mensagem simbólica do desfile de Brasília foi a presença do personagem Zé Gotinha num carro dos Bombeiros do Distrito Federal. O boneco estilizado, que contribui para a imunização de crianças, representa também a restauração da confiança na ciência médica, depois de um período caracterizado pelo negacionismo, que só contribuiu para agravar os danos da pandemia no país.
Igualmente representativa da nova visão de governo foi a manifestação feita por uma unidade militar formada por soldados indígenas das etnias tariano, kuripaco, baré, kubeo, yanomami e wanano, que saudaram o presidente da República em seus idiomas nativos, com um apelo em defesa da Amazônia. Representavam os povos originários, a diversidade da nossa população, a preservação do meio ambiente e a soberania nacional, valores caros para parcela expressiva do povo brasileiro.
Os quatro eixos temáticos escolhidos pelo governo para a celebração foram observados no desfile principal: paz e soberania, ciência e tecnologia, saúde e vacinação, e defesa da Amazônia. Mas a festa da Independência não se restringiu a Brasília. Nos demais Estados brasileiros, o desfile cívico-militar também transcorreu com absoluta normalidade. Houve, sim, as tradicionais manifestações de natureza política e social. Em algumas capitais, ativistas promoveram o Grito dos Excluídos, reivindicando moradia, combate à violência e repúdio ao marco temporal para demarcação de terras indígenas. Da mesma forma, opositores do atual governo e partidários da administração passada manifestaram-se fortemente pelas redes sociais, pedindo boicote aos desfiles, criticando a parcela das Forças Armadas que assumiu posicionamento mais profissional e até celebrando a pouca presença de público nos desfiles.
Nada que a democracia não comporte. O importante é que a celebração dos 201 anos da Independência do Brasil transcorreu de forma pacífica, sem ufanismos nacionalistas e em conformidade com o civismo democrático cultuado pela maioria dos brasileiros.