À medida que as horas passam e as águas baixam fica mais clara a dimensão desconcertante da catástrofe climática que atingiu em especial o Vale do Taquari. As imagens da destruição na região são impactantes e os relatos dos sobreviventes da enchente, comoventes. Toca ainda mais o desconsolo de pessoas que perderam familiares ou esperam notícias de desaparecidos. Os prejuízos financeiros também parecem ser significativos. A inundação arrasou patrimônios, mas perda material é algo menor neste instante. A prioridade é a vida.
É uma nova realidade que exige medidas para mitigar as causas e adaptação para minorar estragos e ameaças a populações
Mesmo que se exija, olhando para o futuro, um planejamento mais consistente para minimizar os riscos de novos eventos extremos como os causados por chuva excessiva, agora é o momento de trabalhar para terminar a fase de resgate de pessoas ilhadas e alcançar ajuda humanitária aos atingidos. Se a envergadura do desastre natural impressiona, por outro lado novamente deve ser saudada a corrente de solidariedade formada pelos gaúchos para reunir donativos destinados aos afetados. Além de alimentos, materiais de higiene e limpeza, agasalhos e cobertores, há necessidade de itens ainda mais básicos como água potável e até velas paras as comunidades onde a luz não foi restabelecida.
O governo federal, ente com maiores condições financeiras, assegura que não faltarão verbas para amparar as famílias atingidas, reconstruir as cidades devastadas pela violência da enxurrada e reparar a infraestrutura de luz, telecomunicações e acessos. Espera-se que assim seja, com a chegada dos recursos o mais breve possível, respeitando-se os trâmites burocráticos minimamente necessários, como a apresentação dos planos de trabalho dos municípios.
Em virtude da magnitude da tragédia, o Palácio do Planalto despachou para a região o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta. As Forças Armadas e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) enviaram helicópteros. O Exército disponibilizou botes e tropas para reforçar o trabalho de resgate, em auxílio às equipes e aos recursos materiais do Estado e dos voluntários. Assegurar os meios para socorrer a população, sem dúvida, é o mais relevante. Mesmo assim, seria adequado que o próprio presidente Lula – além de manifestar solidariedade e prometer apoio, o que fez ao menos duas vezes – viesse ao Estado e, no mínimo, sobrevoasse a área afetada. Seria algo mais simbólico do que com resultados práticos, é verdade, mas importante neste momento de rescaldo e dor.
Até o início da noite de ontem, os números oficiais indicavam 36 mortes confirmadas e nove desaparecidos. É possível, assim, que a soma aumente. Apenas três eventos climáticos extremos deste ano já deixaram 54 vítimas fatais no Estado. Deve-se manifestar pesar aos familiares e prestar toda a assistência para as comunidades se reerguerem da devastação. A prioridade é prestar o auxílio imediato. Logo à frente, como dito ontem neste espaço, a tarefa inadiável é discutir formas de reduzir danos e risco a vidas quando novos desastres naturais se avizinharem.
O observatório europeu Copernicus confirmou ontem: 2023 tende a ser o ano mais quente na Terra desde o início dos registros oficiais. Vários cantos do mundo sentem nestes dias os efeitos calamitosos do aquecimento global. É uma nova realidade, que exige medidas para mitigar as causas e adaptação para minorar os estragos e ameaças a populações.