É historicamente alta a confiança depositada na produção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A credibilidade do órgão não foi algo obtido da noite para o dia, mas o resultado da constatação no decorrer de décadas de que os números apurados e divulgados à sociedade têm total aderência à realidade. Foi assim no transcorrer de governos democráticos e autoritários e de diferentes matizes políticos.
O IBGE produz indicadores que, pela importância que têm, não devem ser alvo de qualquer desconfiança de contaminação política
Ao longo da semana que passou, instalou-se a controvérsia sobre a indicação do economista Márcio Pochmann para o comando do IBGE, por desejo do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi rememorada a sua passagem à frente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre 2007 e 2012, quando se envolveu em polêmicas que indicavam uma atuação ideologicamente enviesada, com direcionamento em concursos e relações conflituosas com quadros que não rezavam pela cartilha do governo petista de então.
De pronto lembrou-se o corrido na Argentina mais ou menos na época, quando o país vizinho, sob o casal Kirchner, promoveu uma intervenção no Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), levando a um apagão na produção de dados confiáveis. À época, técnicos denunciaram uma tentativa em especial de maquiar a alta da inflação. O resultado foi que a credibilidade da própria Argentina foi abalada.
Cabe apenas ao governo federal e ao próprio Pochmann acabarem com qualquer desconfiança. Basta que venham a público assegurar que não haverá nenhuma ingerência. Explicar os mecanismos de governança e de controles internos de coleta e tratamento dos dados que impediriam qualquer tentativa nesse sentido. Pochmann, petista histórico e economista desenvolvimentista, contribuiria assegurando que zelará pelo trabalho técnico do IBGE, mantendo-se, a exemplo dos demais presidentes do órgão, como um ilustre desconhecido do grande público.
O IBGE é o principal fornecedor de dados oficiais do país. Entre eles estão PIB, inflação, taxa de desemprego, renda, nível de atividade setorial e censo demográfico, entre vários outros estudos de alta relevância. É pelos dados produzidos pelo instituto que governos, empresas, organizações, imprensa, economistas, institutos de pesquisa e população se apropriam de informações essenciais para se conhecer a situação do país, planejar políticas públicas e tomar decisões. São indicadores que, pela importância que têm, não devem ser alvo de qualquer desconfiança de contaminação política. Seu corpo técnico qualificado, portanto, deve continuar a trabalhar com independência e guiado de acordo com os melhores manuais de boas práticas da área.
Se surgiram temores devido a episódios passados, seria conveniente o governo se apressar em assegurar tratarem-se de receios infundados. Depois, demonstrar na prática, com o passar do tempo. Até porque qualquer ousadia em sentido contrário, especialmente acerca de números econômicos, seria desastrosa e facilmente detectada por outros órgãos e institutos.