As principais informações econômicas dos últimos dois dias consolidam a percepção de que estão dadas as condições para o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deflagrar na reunião da próxima semana um novo ciclo de corte do juro. Desde agosto de 2022, a Selic está estacionada no nível sufocante de 13,75% ao ano. Na terça-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que o IPCA-15 de julho, prévia da inflação oficial do país, recuou 0,07% ante junho. Em 12 meses, acumula alta de 3,19%. Ontem, a agência de classificação de risco Fitch elevou a nota de crédito do Brasil de BB- para BB. Para justificar a melhor avaliação, citou “um desempenho macroeconômico e fiscal melhor do que o esperado”.
As duas notícias, juntas, permitem projetar que não seria tão espantoso o Copom decidir por um corte de 0,5 ponto percentual no juro
As duas notícias, juntas, permitem projetar que não seria tão espantoso o Copom decidir por um corte de 0,5 ponto percentual no juro. É uma aposta que cresceu ao longo da semana, apesar de a maior parte dos prognósticos ainda cravar um afrouxamento de 0,25 ponto, coerente com a cautela demonstrada pelo colegiado até aqui.
Diante do endividamento alto de famílias e empresas, das dificuldades no crédito e da desaceleração da atividade – mesmo que em ritmo inferior ao imaginado há poucos meses –, um corte mais ousado seria bem recebido. Mas o BC dispõe das melhores informações e é preciso crer que tomará uma decisão adequada para dar início a um período de alívio no torniquete do juro, compatível com a necessidade de um crescimento sustentável da economia e que não comprometa a vigilância com a inflação.
O IPCA-15 trouxe informações benignas. Os núcleos da inflação e itens relacionados a serviços, que se mostravam mais resilientes, mostraram desaceleração. O índice de difusão, referente à proporção de bens e serviços com elevação de preços no período, também diminuiu. O dólar, outro fator que influencia a inflação, segue em tendência de queda e está próximo de R$ 4,70.
A Fitch aponta que o país vem, nos últimos anos, reconstruindo um melhor ambiente econômico. Cita reformas já votadas, como a da Previdência e a trabalhista, e avanços como a independência do BC. Observa também o andamento da aprovação do novo marco fiscal e da reformulação do sistema de impostos. Assim, elevou a nota do país, embora mantendo a perspectiva estável. Em junho, outra agência, a S&P Global Ratings, alterou a perspectiva de rating do Brasil de estável para positiva, mas mantendo a nota BB-. Se o país continuar na trilha da responsabilidade e da estabilidade política e institucional, poderá recuperar o chamado grau de investimento, selo de pagador confiável, o que significa melhores possibilidades de receber investimentos estrangeiros e de captação de recursos a custos menores.
A visão positiva sobre o país, no entanto, não é imutável. Mantê-la depende de uma postura prudente do Executivo federal e do Congresso no sentido de perseguir a sanidade das contas públicas e a melhoria do ambiente de negócios. Na semana passada, por exemplo, o governo aumentou a projeção de déficit primário deste ano. Passou de R$ 136,2 bilhões para R$ 145,4 bilhões, especialmente pela frustração de receitas. A pressão por gastos, por outro lado, é constante. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem o compromisso de entregar um déficit de 0,5% a 1% do PIB neste ano. Ou seja, R$ 100 bilhões, no máximo. A credibilidade precisa ser cultivada todos os dias.