O Departamento de Economia e Estatística (DEE) do Estado divulgou ontem o desempenho do PIB do Rio Grande do Sul em 2022 e, sem nenhuma surpresa, houve uma queda significativa na soma de bens e serviços produzidos. A retração de 5,1% ante o ano imediatamente anterior se deveu notoriamente à estiagem severa que atingiu em cheio a agropecuária, infligindo volumosos prejuízos, especialmente nas lavouras de soja. Era algo mais ou menos esperado desde o primeiro semestre em função dos números da produção agrícola. Outros setores importantes, no entanto, tiveram melhor desempenho, em parâmetros gerais em linha com o país. A indústria gaúcha cresceu 2,2%, e os serviços, 3,7%.
Deve-se atentar para a necessidade de diversificar e fazer com que outros setores também floresçam
Chega o momento, portanto, de projetar 2023. Indústria e serviços encerraram o ano em desaceleração, seguindo o ritmo nacional. Mas na agropecuária, a despeito de um novo verão seco, as perdas devem ser menores em comparação com a última safra, indicando um PIB final melhor em relação a 2022.
A performance do campo, no entanto, mostra mais uma vez a premência de o Rio Grande do Sul avançar na reservação de água e na irrigação para o Estado não ter, no futuro, quebras tão intensas quando outra vez os índices pluviométricos forem aquém do necessário.
Outro aspecto é que o agronegócio, sem dúvida, é o setor mais dinâmico da economia brasileira e também da gaúcha. Muitas vezes, em anos anteriores, compensou a debilidade da atividade no mercado interno do país e fez o PIB do Estado ter um resultado superior ao brasileiro. Com todos os percalços, é um segmento que vai bem e tem confiança no futuro. Mas deve-se atentar para a necessidade de diversificar e fazer com que outros setores também floresçam e ganhem maior peso na economia gaúcha. Olhando o caminho das nações que mais avançam, fica óbvio que entre as grandes apostas têm de estar a inovação, o incentivo ao desenvolvimento tecnológico e as soluções voltadas à sustentabilidade, como a energia verde. Não é razoável tamanha dependência dos humores do clima, algo sempre imponderável e que tende a ser cada vez mais instável.
Mas além de olhar para um horizonte mais largo, o curto prazo também deve gerar preocupação. O Rio Grande do Sul não é uma ilha e tem parte relevante de seu desempenho atrelado à economia nacional, que mostra nítida desaceleração desde o segundo semestre do ano passado. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu na quarta-feira manter a taxa Selic no patamar estratosférico de 13,75% ao ano. É um nível sufocante para a economia real.
O tom adotado no comunicado do colegiado abre margem inclusive para entender que existiu a intenção de firmar posição ante os ataques recebidos por membros do governo Luiz Inácio Lula da Silva, inclusive do próprio presidente, e também do setor produtivo. O Copom, que não é infalível, alega que permanecem as incertezas fiscais e as expectativas de inflação seguem desancoradas.
Teria acertado o Planalto se adiantasse a apresentação do novo marco fiscal. Melhor ainda se com um conteúdo, como se espera, demonstrando compromisso com a saúde das finanças públicas. Restou claro que não será constrangendo os membros do comitê que o juro vai baixar. É preciso criar condições para que a taxa caia com segurança. Hoje persiste um impasse que faz mal ao país, levando a projeções de um crescimento ínfimo do PIB nacional em 2023. O Rio Grande do Sul, por óbvio, vai a reboque.