É a terceira estiagem severa que assola o Rio Grande do Sul nos últimos quatro anos. Mas a falta de chuva regular, volumosa e bem distribuída no verão gaúcho não é um fenômeno novo. Basta lembrar das últimas décadas para constatar que é um problema relativamente frequente no território gaúcho e conhecido dos agropecuaristas. Ainda assim, a cada novo episódio, o debate se repete: por quais razões o Estado, mesmo castigado periodicamente por secas, não consegue se precaver de maneira satisfatória para garantir o abastecimento de água a algumas populações, dar de beber aos animais e salvar lavouras?
As discussões parecem ser as mesmas do passado, com pouca evolução. Debate-se, sobretudo, as dificuldades para avançar na irrigação de culturas de sequeiro como a soja e o milho. O desempenho da oleaginosa, carro-chefe da agricultura gaúcha, é decisivo para a economia do Estado. Em ano de safras cheias, o PIB do Rio Grande do Sul costuma crescer acima da média nacional. Quando há quebra significativa, a perda de riqueza é imensa. O milho, mais sensível à falta de umidade, é essencial para formulação de rações e alimentação de rebanhos bovinos leiteiros, aves e suínos, cadeias de grande importância para milhares de famílias do Estado. No gado de corte, a seca leva à perda de peso dos animais e afeta a fertilidade, prejudicando a atividade no futuro.
Os dados mais recentes sobre as duas culturas de sequeiro, no entanto, mostram que ainda é pequena a área que não conta apenas com a ajuda da água que cai do céu. Conforme a Secretaria da Agricultura, apenas 2,3% da extensão cultivada com soja no Rio Grande do Sul é irrigada. No caso do milho, chega a 11,6%, mas muito aquém do que seria necessário para o Estado ter segurança no abastecimento do grão com produção própria. É preciso lembrar que irrigar na hora certa não significa apenas evitar perdas. Serve, sobretudo, para elevar em muito a produtividade.
A cada estiagem ressurgem os anúncios do poder público de determinação para acelerar a construção de microaçudes, a perfuração de poços artesianos e a retomada de medidas e tratativas para desburocratizar o armazenamento de água nas propriedades e incentivar a irrigação. Nos últimos anos, até a construção de cisternas, lembrando uma solução usada no semiárido nordestino para assegurar o abastecimento humano, tem sido usada como estratégia. A realidade, no entanto, mostra que todo o empenho parece ser insuficiente. Já são agora 140 municípios gaúchos em situação de emergência pela estiagem do verão atual. Voltaram os pedidos de agricultores para medidas imediatas de amparo dos governos federal e estadual. Passou da hora de o Estado, com uma conjugação de esforços entre agricultores, entidades, poder público, universidades e demais atores da sociedade, encontrar formas de prevenir mais os efeitos da estiagem para precisar remediar menos. A busca por soluções deve ser duradoura, e não ser esquecida após o primeiro verão de chuvas abundantes.