Sai governo, entra governo e o Rio Grande do Sul ainda mantém uma dívida aberta com dezenas de milhares de gaúchos moradores de municípios sem acesso asfáltico. Não é razoável aceitar que um dos Estados mais ricos e desenvolvidos do país ainda permita que uma parte de sua população, contribuintes como todos os demais, não possa desfrutar do básico direito de sair e entrar em suas cidades por estradas pavimentadas.
Para milhares de gaúchos, poucos quilômetros de asfalto podem fazer a diferença na luta pelo progresso e pela qualidade de vida
Reportagem de Fábio Schaffner publicada nesta edição mostra que ainda existem 47 municípios nesta situação. Enfrentar vias de terra esburacadas, poeirentas ou enlameadas não é apenas um desconforto. A infraestrutura precária prejudica a economia dessas cidades. Os produtos que chegam de fora acabam vendidos por preços mais caros. O transporte, afinal, é um importante item formador de custos. O mesmo acontece para escoar a produção, o que afeta a renda local pelo desconto forçado na venda de mercadorias. O progresso socioeconômico e a própria autoestima da população acabam abalados.
Como é usual, a cada quatro anos renovam-se promessas para solucionar este problema que se arrasta por décadas. O secretário estadual de Transportes e Logística, Juvir Costella, acena agora com o compromisso de que, até o final de 2026, todos acessos estarão concluídos ou próximos de serem entregues para as comunidades.
São 145 mil gaúchos, de quase 10% dos municípios do Estado, que aguardam enfim uma solução. Fica a expectativa, portanto, do cumprimento do compromisso, mas executado com um serviço de qualidade e durabilidade, afastando o risco da repetição de episódios conhecidos de asfaltamentos que rendem inaugurações com estardalhaço e, pouco tempo depois, a cobertura começa a se esfarelar e as crateras se multiplicam.
Que finalmente, então, este desafio seja vencido, com as dificuldades contratuais sanadas, bons projetos, existência de planejamento adequado e disponibilidade de recursos para levar as obras iniciadas até o fim, sem interrupção. Por meio do plano de concessões de rodovias, o Piratini pode ter menos obrigações com algumas das principais rodovias estaduais e, assim, dispor de mais recursos para atender ao restante da malha. Mas mesmo com recursos extraordinários, como de privatizações, o custo estimado para finalizar todos os acessos, R$ 1,8 bilhão, dificilmente será suportado apenas pelo caixa do Estado. Uma boa alternativa são as permutas, em que um empreendedor troca a execução do serviço por um patrimônio do governo, como terrenos, algo que o governo gaúcho vem fazendo para viabilizar diversas obras.
Uma infraestrutura digna não é feita apenas de grandes projetos estruturantes. Para milhares de gaúchos, poucos quilômetros de asfalto podem fazer a diferença na luta pelo desenvolvimento e pela melhoria da qualidade de vida.