Uma deprimente marca da campanha eleitoral de 2022 é o excesso de ataques entre os candidatos. Nos espaços da propaganda eleitoral e nos debates, os adversários gastam mais tempo fustigando um ao outro do que apresentando e detalhando propostas. Os apoiadores mais passionais vibram a cada golpe verbal desferido, mas o eleitor que espera conhecer planos e projetos para decidir o voto acaba frustrado. O que deveria ser uma escolha pelas melhores proposições para dar resposta às principais aflições da sociedade vira uma batalha para desqualificar e elevar a rejeição do oponente.
Mesmo caindo, os números de homicídios seguem altos, muito distantes do que poderia ser considerado um patamar civilizado
É em momentos como esse que o papel do jornalismo profissional ganha relevo. É o caso da reportagem de Humberto Trezzi, publicada na superedição de Zero Hora, sobre os desafios da segurança pública e as principais proposições dos candidatos à Presidência da República e ao governo do Estado. Criminalidade e violência estão entre as áreas que mais inquietam a população, à espera de políticas consistentes para combater o banditismo em geral e os delitos que passaram a ser o centro das preocupações. Nesse contexto, o auxílio de especialistas se presta para examinar exatamente quais frentes devem ser priorizadas. Duas grandes fontes de apreensão, neste momento, são os conflitos entre facções e o aumento dos feminicídios, na contramão da queda dos homicídios, no Brasil como um todo e no Estado nos últimos anos.
O eleitor quer saber, afinal, quais são as propostas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) para a área de segurança no país e quais são as principais ideias e compromissos de Eduardo Leite (PSDB) e Onyx Lorenzoni (PL) para frear a criminalidade no Rio Grande do Sul. Se as candidaturas não priorizam ou não conseguem apresentar de forma pormenorizada seus planos de governo para a área, cabe à imprensa preencher essa lacuna e facilitar aos votantes a comparação entre princípios e medidas prometidas para aparelhar as forças de segurança, criar políticas sociais que ataquem na raiz as razões da violência e qualificar o sistema penitenciário do Estado, entre outras ações.
É verdade que os índices da maior parte dos crimes recuaram nos últimos anos, especialmente a partir de 2017. Não se deve, no entanto, perder a perspectiva. Mesmo caindo, os números seguem altos, muito distantes do que poderia ser considerado um patamar civilizado. É o caso dos homicídios. Conforme o Fórum Brasileiro da Segurança Pública (FBSP), o país teve no ano passado 47,5 mil assassinatos. Apesar de ser uma redução de 6,5% ante 2020, o Brasil segue como a nação com o maior número de mortes do tipo no mundo. Baixar ainda mais essa estatística, sem dúvida, depende de um combate mais efetivo às facções. É preciso, ainda, compreender melhor as causas da elevação dos feminicídios e buscar meios mais eficientes para pôr um freio nesse crime abjeto. Esse deve ser um dos principais compromissos dos próximos governantes.