Ainda que se reconheça como oportunas e necessárias as providências que vêm sendo adotadas pela Polícia Civil e pela Brigada Militar para elucidar as circunstâncias da morte de um jovem de 18 anos em São Gabriel, depois que ele foi detido por soldados e conduzido em uma viatura da corporação, a gravidade do episódio exige respostas mais céleres, esclarecedoras e conclusivas por parte das autoridades estaduais. Como bem afirmou o comandante-geral da BM, coronel Cláudio Feoli, em reunião extraordinária com seus subordinados para revisão de procedimentos, não se pode permitir que os gaúchos desconfiem de uma instituição que presta serviços inestimáveis ao Estado há quase dois séculos. Mais do que a imagem corporativa, porém, o que requer reparação é a dor e o sentimento de injustiça da família e dos amigos da vítima.
É por isso, também, que a apuração precisa ser mais rápida, evidentemente que sem qualquer atropelo ao rigor investigatório que conta com o acompanhamento de instituições independentes como o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil. O crime de São Gabriel, que pode ir da fraude processual reconhecida pela BM ao homicídio doloso denunciado pela Polícia Civil, ocorre no rastro de outra ocorrência grave ainda não suficientemente esclarecida, o espancamento de um torcedor de futebol em Porto Alegre. A lentidão do inquérito do chamado caso Raí Duarte na corregedoria-geral da Brigada Militar também suscita desconfianças por parte da população de que os responsáveis pelos abusos possam estar sendo protegidos.
O mais importante continua sendo a preparação adequada dos policiais para que possam cumprir a árdua missão de proteger a população da criminalidade
Ao convocar os coronéis da BM para revisar procedimentos operacionais e ao dar visibilidade à reunião, o comandante da força policial passa a ideia de que não incorrerá na solução fácil de simplesmente atribuir toda a culpa aos autores dos desvios, como se eles fossem as frutas podres do cesto, isentando a corporação das responsabilidades que lhe cabem na avaliação, na preparação e no acompanhamento dos soldados. Essa espécie de autoexpiação era mesmo necessária para evitar que a Brigada fique com uma pecha de violência e autoritarismo incompatível com a sua história e com os direitos de uma sociedade democrática.
Pelo que se sabe, por informações das próprias autoridades, outras providências estão em andamento para dar maior transparência ao trabalho policial – entre as quais a aquisição de câmeras de monitoramento para serem acopladas ao uniforme dos agentes. O uso desse recurso tecnológico em outros países vem demonstrando eficácia para prevenir arbitrariedades e para proteger os próprios policiais de falsas acusações. Será, portanto, bem-vindo. Porém, o mais importante continua sendo a preparação adequada dos servidores policiais para que possam cumprir, com a necessária firmeza e sem cometer excessos, a árdua missão de proteger a população da criminalidade.
É o que a Brigada Militar do Rio Grande do Sul vem fazendo com êxito e eficiência ao longo de sua história, razão pela qual ostenta, com justificado orgulho, o reconhecimento da população gaúcha.