A pátria é o local onde a pessoa nasce ou vive por escolha própria. Na definição desse conceito, preponderam fatores de união entre sujeitos diferentes, mas que compartilham ligações objetivas e afetivas com um espaço que pode ser chamado de país ou nação. Hoje, 7 de Setembro, é dia de celebrar as pontes e não os abismos.
Por isso hoje, mais do que nunca, é necessário zelar para que a coesão social e democrática, ainda jovem e imperfeita, não seja destruída pela intolerância
Nas próximas horas, esperam-se grandes manifestações nas ruas e espaços públicos do Brasil. A afirmação da identidade e a defesa das ideias democráticas é o amálgama de um tecido social saudável. É preciso proteger esse direito e cuidar para que sua essência não seja deturpada pela radicalização que leva, invariavelmente, a um erro que cobra uma conta elevada. Quando a identidade de um grupo se solidifica a partir da exclusão do outro, o resultado é a desagregação dos valores fundamentais de uma sociedade oxigenada e próspera.
Olhar para trás é pré-requisito da construção de futuro. À exceção das populações originárias, de modo geral os bisavós e tataravós dos brasileiros que hoje aqui estão chegaram como vítimas de intolerância e do ódio. Dos conflitos na Europa, da fome na Ásia e da monstruosidade da escravidão, milhões de homens e de mulheres foram expulsos de seus lares. Alguns vieram à força. Outros por tentar seguir em frente movidos pelos sonhos de liberdade e de oportunidade e dignidade para suas famílias. Assim nasceu o Brasil, um país de cores e sabores diferentes e complementares, no qual o colonizador se mesclou de forma harmônica a um projeto agregador. Há questões pendentes, como a dos povos nativos, que hoje, felizmente, mesmo a duras penas, vêm conquistando voz e espaço no debate público. É essa riqueza que se vê agora ameaçada por projetos de poder fantasiados de projetos de país. As ideologias, sejam elas de esquerda ou de direita, sequestraram causas que deveriam ser de todos.
Por isso hoje, mais do que nunca, é necessário zelar para que a coesão social e democrática, ainda jovem e imperfeita, não seja destruída pela intolerância. Que o grito das ruas responda às perguntas certas. Que Brasil queremos? De todos ou de alguns? De exclusão ou de inclusão? De solidariedade ou de ódio? De apenas uma visão de mundo ou que consiga consensos?
Quando a perspectiva de avenidas, praças e parques lotados é acompanhada pelo medo da desagregação, o passado e o futuro também gritam, embora seja difícil ouvi-los em meio à balbúrdia dos que só enxergam o hoje.