Quando a eleição de 2022 se aproxima, cresce a preocupação com a pressão que a disputa pelo poder exercerá nas contas públicas. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicados pelo jornal o Estado de São Paulo revelam que, no ano passado, o governo federal gastou R$ 524 bilhões em ações para amenizar os efeitos da pandemia.
Por um lado, é louvável que as autoridades assistam os setores mais deprimidos pelos impactos da covid-19, especialmente as camadas desassistidas da população, as que mais sofrem com o desemprego e com a falta de perspectivas. Por outro lado, é fundamental zelar pela austeridade. O populismo eleitoral, mais cedo ou mais tarde, sempre custa caro. É o equilíbrio entre necessidade e disponibilidade que deve balizar as decisões da área econômica do governo, sob pena de, ao maquiar paliativamente um problema estrutural, criar um rombo impagável ali na frente.
Mais do que uma disputa de imagens forjadas por ações circunstanciais, a eleição é o momento de valorizar as propostas de futuro realistas e honestas
É verdade que a demora do governo federal em reconhecer a necessidade de vacinação e a gravidade da pandemia apresentam, agora, uma conta salgada. Primeiro, pelas mais de 570 mil vidas de brasileiros perdidas, mas também pelo impacto do estridente negacionismo oficial na imagem da marca Brasil no Exterior, desagregando valor dos produtos e serviços aqui produzidos. Some-se a esse desgaste a percepção de que o governo Bolsonaro é igualmente omisso com a preservação ambiental, um dos setores mais impactantes na formação da opinião pública mundial.
Também no Rio Grande do Sul é preciso manter o prumo das despesas, ainda mais com o aporte de recursos advindos dos processos de privatização. É louvável que o governo modernize a sua gestão, se desfazendo de ativos deficitários ou não vinculados às obrigações mais relevantes da gestão pública e que, por isso, podem ser administrados de forma mais eficiente pela iniciativa privada. Mas, para que as privatizações façam sentido de fato, o dinheiro delas advindo deve ser investido em melhorias estruturais de longo prazo.
Mais do que uma disputa de imagens forjadas por ações circunstanciais, a eleição é o momento de valorizar as propostas de futuro realistas e honestas. Nesse contexto, cabe a cada cidadão avaliar o grau de responsabilidade dos políticos não apenas com o dia da votação mas, principalmente, com o que virá depois dele. A escalada das tensões políticas é uma armadilha que impõe ao país critérios essencialmente emocionais de avaliação. A História nos ensina uma lição óbvia, mas muitas vezes esquecida: só quem ganha com a radicalização são os radicais.