A superação de conflitos, quase sempre, exige capacidade recuar e de ceder. Basta uma rápida análise da trajetória pública de Jair Bolsonaro para concluir que esse tipo de movimento não faz parte do repertório do presidente da República, desde os tempos em que era um obscuro deputado federal em Brasília.
O político Bolsonaro nasceu, cresceu e se elegeu movido pelo tensionamento e pelo embate. São esses os combustíveis que alimentam suas convicções, tanto nas decisões de governo quanto no desejo de se reeleger no ano que vem. Por dever de justiça, cabe ressaltar a inexistência de surpresas na conduta de Bolsonaro, que ganhou uma eleição marcada por conflitos e vem colecionando antagonismos desde o começo do mandato, sejam eles relativos à China, a seus ex-ministros Sergio Moro e Luiz Henrique Mandetta, à urna eletrônica, à máscara, ao presidente da França, ao STF e a todos os que julga estarem contra ele, utilizando o modelo simplista da análise amigo/inimigo, impermeável a qualquer nuance que não se enquadre nos extremos.
A paz não é a derrota do outro ou uma conquista imposta e unilateral, mas sim o resultado de uma negociação que envolve o equilíbrio entre o ideal e o possível, preservando sempre os valores considerados essenciais. Por tudo isso, são improváveis, infelizmente, as esperanças de que se chegue a uma trégua institucional em Brasília.
São improváveis, infelizmente, as esperanças de que se chegue a uma trégua institucional em Brasília
Episodicamente, como já vem acontecendo, o país assistirá a movimentos retóricos sinalizando boas intenções, mas durarão pouco. O Brasil elegeu para governá-lo um presidente que vem sendo coerente com o que mostrou na campanha eleitoral: palavrões, brigas e um discurso autoritário em tempos de incertezas, características que, com a proximidade do pleito de 2022, ficarão ainda mais exacerbadas. Já foi assim em 2018, quando o debate tinha como polos a cadeia, onde estava Lula, e o hospital, onde Bolsonaro se recuperava de uma facada. Por isso, mais do que alimentar falsas esperanças de paz e harmonia, o Brasil precisa trabalhar para amenizar os efeitos de mais conflitos, se isso é possível sem que a conta se torne impagável.
Focar em temas de real importância seria uma contribuição. A criação de empregos, o enfrentamento à pandemia e o enxugamento da máquina pública, buscando eficiência, precisam ganhar protagonismo na pauta nacional, por pressão da sociedade e dos cidadãos.
A campanha eleitoral de 2022 aponta, hoje, para um nível de violência preocupante. E se os cenários são voláteis, uma certeza existe: Bolsonaro continuará a ser Bolsonaro. Foi assim que ele chegou ao cargo público mais importante do país.