Zero Hora publicou na quinta-feira uma página com o resumo de uma série de entrevistas realizadas pelo programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, com empresários, lideranças setoriais e executivos de companhias relevantes do Estado. Há, felizmente, um unânime sentimento de otimismo para os próximos meses, em maior ou menor grau, graças ao avanço da vacinação contra a covid-19, o que põe à frente esperanças palpáveis de controle da pandemia. Desde o começo do ano passado, a crise sanitária criou severas dificuldades para a economia, com reflexos nos negócios, no emprego e na renda da população. Ao longo de 2021, a despeito da preocupação com o novo pico da doença nos meses iniciais, foi se sedimentando uma maior confiança na retomada da atividade no Estado e no país.
Ao longo de 2021, a despeito da preocupação com o novo pico da doença, foi se sedimentando uma maior confiança na retomada da atividade no Estado e no país
As expectativas positivas são sem dúvida uma injeção de ânimo, mas o Brasil precisa, mais do que recuperar perdas, ingressar em um período de crescimento forte e constante para fazer com que a grande massa de desempregados, por exemplo, encontre uma ocupação, volte a ter dignidade e participe do mercado de consumo, dando nova dinâmica à economia pelo impulso ao mercado interno. A questão é que começou a aparecer uma profusão de incertezas que têm levado a uma sequência de revisões para baixo das projeções para o PIB de 2022. A mediana das opiniões de especialistas estava até semana passada em 2%, de acordo com o Boletim Focus, do Banco Central, mas há quem aposte em um resultado ainda mais fraco. Se esse cenário se confirmar, o país seguirá a toada observada nos últimos anos, de avanços medíocres e insuficientes, após um período recessivo seguido de baixíssimo crescimento.
A continuidade da recuperação pós-pandemia é colocada em xeque por diversos fatores. Junto ao desemprego, há alta acelerada da inflação, especialmente de itens que compõem grande parte dos gastos das classes baixa e média, como alimentos, gasolina e energia elétrica. A majoração dos preços tem levado o Banco Central a elevar a taxa Selic, o que sempre é um inibidor da atividade e dos investimentos produtivos. Há, ao mesmo tempo, sérias preocupações com a situação orçamentária do país devido a desconfianças de que o governo federal busca saídas que burlam regras fiscais para financiar programas sociais, de olho nas eleições presidenciais de 2022, sempre um perío-
do de forte nervosismo. As reformas estão paradas ou feitas de maneira que não resolvem os grandes problemas, como mostram as discussões em relação a mudanças no sistema tributário, focado no imposto de renda. Para completar, a crise política não cessa, jogando mais lenha na fogueira
da desconfiança. Todo esse cardápio de preocupações se reflete no dólar, no juro, na inflação e na confiança dos agentes da economia. São ingredientes de uma receita indigesta, na contramão do que seria necessário para recolocar o país no caminho do crescimento robusto e sustentável.
Não há atalhos para encontrar a saída desse labirinto. As soluções passam, em primeiro lugar, por uma pacificação política, ora difícil de ser vislumbrada, além de uma gestão competente da crise energética e respeito à responsabilidade fiscal na busca por moldar o programa de transferência de renda planejado pelo Planalto. Com seriedade e serenidade, constroem-se meios que acabarão se refletindo na melhora das expectativas e dos indicadores, permitindo que o otimismo agora expressado no meio empresarial no Estado não se transforme em nova frustração.