A instabilidade em alguns dos principais sites de notícias, em redes sociais e em plataformas de entretenimento, registrada ontem em parte do mundo, é mais uma sinal de alerta: é inadiável um grande debate sobre segurança global da internet. A relevância do tema cresce na mesma medida em que aumenta a dependência digital da humanidade. Dos serviços bancários aos tratamentos médicos, passando pelo tráfego aéreo e pelo comércio mundial, negócios e relações hoje dependem da segurança e da eficiência do ambiente online.
Toda concentração excessiva de poder, seja ela nas mãos de seres humanos ou das máquinas por eles inventadas, tende, mais cedo ou mais tarde, a cobrar um preço elevado
Um dos maiores pensadores da atualidade, o israelense Yuval Harari, autor dos imprescindíveis livros Homo Deus e Sapiens, profetizou, em meio à pandemia de covid-19, que a próxima grande ameaça planetária será um vírus de computador. Localmente, o recente ataque cibernético que paralisou a Justiça gaúcha reforça a urgência de investimentos em planos de contingência e em gerenciamento das inevitáveis crises geradas pela ameaça real de colapso da rede interligada global de computadores, seja por ações terroristas orquestradas ou por falhas intrínsecas do sistema. Toda concentração excessiva de poder, seja ela nas mãos de seres humanos ou das máquinas por eles inventadas, tende, mais cedo ou mais tarde, a cobrar um preço elevado. Ainda há tempo de impedir que essa conta se torne impagável.
No caso de ontem, ao que se sabe, as falhas tiveram origem no provedor Fastly, um serviço de computação na nuvem baseado nos Estados Unidos e que deixou off-line por cerca de uma hora alguns dos mais importantes veículos do mundo, como The New York Times, Financial Times, BBC, serviços de streaming como HBO Max e Spotify e até a rede do governo britânico. Não seria portanto exatamente um ataque hacker, mas uma falha na infraestrutura que, de qualquer forma, causou inúmeros transtornos. São sistemas que precisam ser robustecidos para que contratempos ainda mais graves não ocorram.
Há, por outro lado, uma profusão de criminosos agindo no meio digital, incluindo as grandes ações, com sequestro de dados e pedidos milionários de resgate por ciberpiratas. Um outro exemplo foi a tentativa de invasão do sistema do Supremo Tribunal Federal (STF), que levou à operação ontem da Polícia Federal para prender suspeitos. O roubo de dados e fraudes virtuais que causam significativos prejuízos a pessoas também aumentam. Os estelionatos são o tipo de crime que mais cresce no Estado nos últimos anos, e a tecnologia tem sido o meio principal. O megavazamento de dados de mais de 220 milhões de brasileiros, que veio a público em janeiro, segue sem esclarecimentos sobre a sua origem. São necessárias, portanto, respostas, tanto quanto à segurança dos sistemas, quanto uma melhor educação individual para evitar dissabores.