As atenções do mundo, nos últimos dois anos, se voltaram em grande parte para a pandemia, tragédia que até agora vitimou mais de 3,8 milhões de pessoas. Mas, mesmo que a emergência sanitária tenha quase que monopolizado o foco da sociedade global, outros dramas humanos não cessaram e, pelo contrário, em alguns casos se agravaram. Enquanto em grande parte do planeta a população era instada a ficar em casa para se proteger da contaminação pela covid-19, grandes contingentes eram obrigados a deixar os seus lares, afastar-se de suas famílias e de seus países por guerras, conflagrações e perseguições políticas e religiosas.
Não haverá paz duradoura no planeta sem que, com diplomacia, multilateralismo e coragem, sejam solucionados conflitos e exista um maior respeito a minorias
Relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) divulgado na sexta-feira dá as dimensões da situação. A quantidade de deslocados por conflitos e crises no mundo dobrou nos últimos 10 anos. São 82,4 milhões de pessoas forçadas a partir do lugar onde vivem pela violência, fome, desesperança e para fugir do tacão de governos autoritários ou déspotas que dirigem seus países em busca apenas de interesses pessoais e de seus grupos, e não visando ao bem-estar da população. O ano de 2020 foi o nono consecutivo de aumento na quantidade de populações deslocadas. Um sinal inequívoco de que é um problema ainda muito longe de solução.
É uma tragédia que não está tão distante assim do Brasil. Os países com o maior número de pessoas empurradas para fora de suas casas são a Síria, mergulhada no caos e na violência de 10 anos de uma guerra civil, e a vizinha Venezuela, presa ao regime chavista, que dilacerou a democracia de um país outrora próspero e que hoje submerge na miséria. Muitos venezuelanos, nos últimos anos, têm buscado inclusive novas esperanças no Brasil.
Mundo afora, organizações civis e alguns governos tentam dar o amparo possível a essas populações em fuga, muitas vezes também vítimas de preconceito e discriminação. O desastre humanitário venezuelano transbordou para Roraima e obrigou o governo federal a criar, em 2018, com a ajuda do Exército, a Operação Acolhida. Trata-se de uma iniciativa que, além do abrigamento, busca a interiorização dos refugiados no Brasil. Alguns tiveram o Rio Grande do Sul como destino.
A crise da covid-19, agora, está mais próxima de ser debelada, graças ao avanço da vacinação. Em breve, portanto, será tarefa dos líderes mundiais e das nações protagonistas voltar a dar maior atenção aos desterrados. Não haverá paz duradoura no planeta sem que, com diplomacia, multilateralismo e coragem, sejam solucionados conflitos e exista um maior respeito a minorias e garantia dos direitos humanos.