A exata medida da honestidade de um governo não está no número de denúncias de corrupção que envolvem seus integrantes. A melhor régua é a reação a elas. Ou seja, a forma como indícios, provas e relatos de malfeitos são encarados, sobretudo pelo maior líder, a quem cabe o exemplo. Ir a fundo para esclarecer qualquer suspeita, mesmo que seja preciso cortar na própria carne, é sempre o mais indicado, em nome da transparência e da lisura que devem nortear a administração pública.
O aparecimento de denúncias de corrupção poderia ser até a oportunidade de comprovar uma postura supostamente diferente das de gestões anteriores
O presidente Jair Bolsonaro tem razão quando afirma ser impossível saber tudo o que acontece na gigantesca máquina pública federal. São milhares de cargos e de nomeações, muitas vezes rifados entre siglas e apadrinhados. O Ministério da Saúde, por seu porte e grande orçamento, é sempre um dos alvos principais desse loteamento que, infelizmente, faz parte do presidencialismo de coalizão que vem caracterizando a maneira como, nos últimos anos, os mandatários da República conseguiram manter a governabilidade.
A afirmação do presidente Bolsonaro pode inspirar duas reflexões. A primeira diz respeito ao gigantismo estatal brasileiro. Fazendo um paralelo simples, uma empresa que não pode ser controlada estaria fadada ao insucesso. A segunda conversa com declarações anteriores de Bolsonaro, que sustentou, mais de uma vez, não haver corrupção no seu governo. Sabe-se que essa é uma garantia sedutora, embora impossível de ser sempre segura, como o próprio Bolsonaro confirma agora. Há, além do caso envolvendo o Ministério do Meio Ambiente, o caso que ainda merece melhores explicações relacionado ao contrato de compra da vacina indiana Covaxin e as inusuais pressões para que os trâmites relacionados à aquisição fossem acelerados. São duas situações que exigem o devido esclarecimento.
Voltando à afirmação inicial deste texto, o aparecimento de denúncias de corrupção poderia ser até a oportunidade de comprovar uma postura supostamente diferente das de gestões anteriores. O verdadeiro interesse público agradeceria. O que diferencia os governos sérios dos bravateiros, portanto, é o tratamento conferido às denúncias de irregularidades. No caso que mais chama atenção nos últimos dias, o da vacina indiana, o que se vê no Planalto é nada animador. Um presidente que se arvora como guardião supremo da lei e da ética deveria reagir de forma mais efetiva diante de tantos indícios consistentes de desvios de conduta que parecem ter sido cometidos no seu governo. Em vez disso, ao que se assiste em Brasília é uma alternância entre silêncios, desculpas vazias e tentativas de mudar de assunto. Não são as respostas que a sociedade brasileira merece.