Se há algo que merece reconhecimento quanto à vacinação contra a covid-19 no Rio Grande do Sul é o fato de o Estado liderar há um bom tempo o ranking nacional de imunização. Até o fim de semana, mais de um quinto dos gaúchos aptos já havia recebido a primeira dose. Até poderia ser uma marca a ser ainda mais celebrada, não fossem as demais incertezas, como o pequeno percentual da população contemplado com a segunda aplicação, abaixo dos 10%, as dúvidas quanto a novas remessas de insumos da China para o Instituto Butantan e o atraso nas entregas da Fiocruz por uma série de fatores. São situações que preocupam, por deixarem uma parcela significativa do público-alvo ainda suscetível à infecção. É um quadro que reforça a necessidade de redobrar todos os cuidados pessoais, em um contexto de reabertura de atividades no Estado.
Espera-se que autoridades responsáveis do governo federal consigam contornar o mal-estar com a China
O Rio Grande do Sul tem cerca de 400 mil pessoas que não receberam a dose de reforço da CoronaVac pela indisponibilidade do produto. A angústia para completar o esquema vacinal foi claramente percebida durante a semana passada, com as enormes filas nos pontos de vacinação, sem que todos tivessem o esforço e a paciência premiados, apesar de horas de espera, em muitos casos sob mau tempo. Embora o atraso não represente um grande risco, sabe-se que o ideal, para a eficiência máxima, é a segunda dose da CoronaVac ser aplicada em um intervalo de até 28 dias após a primeira, o que não vai ocorrer para um grande número de gaúchos.
O Butantan alertou ontem que há grande ameaça de um atraso na produção ainda maior em junho, comprometendo o cronograma de entrega, pela falta do chamado insumo farmacêutico ativo (IFA), cujas remessas estão atrasadas pela China. A Fiocruz sofre com o mesmo problema. Mas, enquanto o Brasil precisa contar com a boa vontade de Pequim, assistiu-se nas últimas semanas ao ministro da Economia falar mal da China, com informações erradas, e o presidente da República, de maneira irresponsável, vocalizar teorias conspiratórias já várias vezes rebatidas.
Fabricante da vacina Oxford/AstraZeneca, a Fiocruz, por sua vez, também vem descumprindo suas promessas de entregas, justificando a incapacidade de seguir o cronograma pela demora na chegada do IFA, a quebra de uma máquina, mas também por questões burocráticas que levaram a uma demora maior do que o esperado na liberação de doses prontas que vieram da Índia. Com tamanhas indefinições e hesitações, pouco adianta Estados e municípios estarem preparados, com o auxílio da sociedade civil, para reduzir carências de estrutura, se falta o principal. E se não é possível ter certeza de que, nas próximas semanas, o ritmo de remessas poderá se aproximar do projetado. Por enquanto, chegam a conta-gotas.
O avanço vagaroso da vacinação acende uma luz de alerta. Mesmo os vacinados com a primeira dose não têm toda a proteção potencial e assim ficam também vulneráveis ao contágio. O risco pequeno cresce inclusive para quem foi imunizado duas vezes, por não existir 100% de eficácia. Há exposição ao surgimento de variantes e, assim, elevam-se as possibilidades de novo aumento de transmissão. Espera-se que autoridades responsáveis do governo federal consigam contornar o mal-estar com a China, para a normalização da entrega de insumos, e que a Fiocruz solucione suas dificuldades, inclusive operacionais. Até lá, resta à população intensificar a atenção, evitando aglomerações, fazendo a higiene das mãos e usando sempre e de forma correta máscaras, de preferência as mais eficientes, do padrão PFF2/N95.