É possível asseverar, sem risco de exagero, que um dos grande males da atualidade é a polarização extremada, muitas vezes potencializada pelas redes sociais. Neste contexto de pouca margem para o diálogo desarmado ou a propensão para ouvir, ganham ainda mais relevância eventos como o Fórum da Liberdade, cuja 34ª edição se encerrou na terça-feira, pela segunda vez consecutiva realizada no formato online, por força da pandemia. Trata-se de um espaço consagrado como uma das principais arenas de debate, reflexões e troca de ideias centradas no
Sempre é preciso diferenciar o debate acalorado sustentado por alegações fundamentadas do simples discurso de ódio
ideário liberal no mundo, mas sempre aberto ao contraditório, com um cardápio variado de convidados do país e do Exterior, formado por pensadores, empreendedores e autoridades públicas.
A edição 2021 do evento, organizado pelo Instituto de Estudos Empresariais, teve como tema principal o questionamento "O digital limita ou liberta?". É plausível afirmar que a resposta pode estar em qualquer uma das duas opções. Depende, essencialmente, se há disposição para uma interlocução com lugar para a divergência saudável ou se ali está presente apenas o desejo de impor visões particulares ou tribais de mundo, comumente radicalizadas. Ocorre que o digital é somente o meio e a chave para solucionar esse impasse, portanto, está no espírito e na responsabilidade de quem usa os meios digitais e as redes sociais.
Do lado do mau uso dos meios digitais também estão os fabricantes de desinformação, que tentam a todo custo inundar as redes sociais com narrativas enviesadas e fatos distorcidos, com objetivos políticos. Pertencem aos mais variados matizes ideológicos. Felizmente há um antídoto para esse mal. É o jornalismo profissional, que conjuga o exercício da liberdade de expressão com a responsabilidade tão necessária para iluminar onde há sombra, levando esclarecimentos à população. É um ofício lastreado em técnica e em fontes confiáveis e plurais, que checa declarações e versões, para separar inverdades dos fatos. Afinal, quem vive de credibilidade precisa cultivá-la no dia a dia, mesmo que não esteja imune a erros. O jornalismo independente e livre é um dos pilares da democracia e da liberdade das sociedades exatamente pela missão de buscar a verdade que sempre vai desagradar a alguém. É o melhor instrumento disponível, portanto, para que se escape das prisões das bolhas que apenas reafirmam visões preestabelecidas, sem qualquer contestação.
De volta ao tema do dilema do universo digital, é preciso diferenciar o debate acalorado sustentado por alegações fundamentadas, que também é um oxigênio da democracia, do simples discurso de ódio nutrido em nichos ideológicos. O uso das redes sociais pelos cidadãos para a vigilância e a cobrança de governantes, da mesma forma, é bem-vinda e uma ferramenta poderosa. A liberdade de expressão é uma garantia constitucional no Brasil e um valor civilizatório a ser sempre defendido. Mas é preciso que também seja exercida de forma ajuizada. Caso contrário, pode ser usada inclusive para minar a democracia liberal que deveria dar guarida a esse direito. Em um momento de grande tensionamento atravessado pelo Brasil, são eventos como o Fórum da Liberdade, com a desamarrada circulação de ideias e pensamentos, que podem se tornar as pontes a ligar ilhas de concepção de mundo, diminuir distâncias e buscar consensos mínimos em benefício da sociedade.