Um recente estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) reflete a dimensão sombria da realidade econômica do Brasil no decênio encerrado há poucos dias. O país teve uma nova década perdida e empobreceu. As projeções indicam que, de 2011 a 2020, o PIB per capita nacional teve um recuo médio de 0,6%, igual ao registrado no intervalo de 1981 a 1990. Foram os piores resultados desde o início do século passado. Embora não seja surpresa, dada a sequência de recessão entre 2015 e 2016, o pífio crescimento entre 2017 e 2019 e os estragos causados pela pandemia, a conclusão deve servir para despertar governantes, parlamentares, empresários, trabalhadores e sociedade civil para a urgência de o Brasil retornar para os trilhos do crescimento.
O reerguimento do país, com benefícios usufruídos por toda a população, depende da construção de pontes e da formação de consensos
Não falta diagnóstico sobre as causas dos entraves ao desenvolvimento nacional. Por isso, urge trabalhar desde já para começar a removê-los. A questão mais premente, por óbvio, é acelerar o início da vacinação contra a covid-19, restabelecendo melhores condições para a retomada de curto prazo da atividade. É o início, mas é preciso ir muito além se o país pretender voltar a progredir no mesmo ritmo do mundo, gerar empregos e atacar a vexaminosa desigualdade brasileira, uma das maiores do planeta.
A lista de prioridades inclui reformas que avançam em ritmo muito aquém do necessário e do prometido. O ano que começa, sem eleições, torna-se uma oportunidade para que o Congresso aprove uma mudança que simplifique o irracional sistema de impostos do Brasil, criando um ambiente menos hostil para os negócios e melhorando a capacidade de competir das empresas brasileiras. A reforma administrativa, da mesma forma, é basilar para aprimorar a qualidade do gasto do Estado brasileiro, elevar a produtividade do setor público e prestar melhores serviços aos cidadãos. Um maior dinamismo da economia, alavancado pela inovação e puxado pela iniciativa privada, requer uma máquina estatal mais ágil, o que também contribui para o indispensável equilíbrio fiscal.
Para o Brasil não voltar a desperdiçar a nova década, é ainda inadiável uma atenção maior à educação. Já era uma frente prioritária antes mesmo da pandemia, pelo desempenho das crianças e adolescentes brasileiros deixando a desejar na comparação com outras nações. Revolucionar o ensino no país e recuperar o terreno perdido é agora imperativo pelo impacto do fechamento das escolas por longo período no decorrer da crise sanitária, afetando especialmente os alunos oriundos das famílias mais carentes – a esmagadora maioria dos brasileiros. Sem um salto na educação pública nos próximos anos, uma nova geração será condenada ao subemprego e a mobilidade social se tornará um desafio cada vez mais difícil de ser transposto.
Não há aqui novidades. O que falta é capacidade de diálogo produtivo para avançar nestas e em outras pautas importantes. A polarização ajudou a paralisar o país na última década. Desde as jornadas de 2013, passando pelos escândalos de corrupção, até as eleições de 2018. O Brasil vive um clima constante de campanha eleitoral que amplia a cisão na sociedade. Em meio à profusão de desavenças, há um governo com quase nenhuma capacidade de articulação política no Congresso e que desperdiça tempo e energia em questões secundárias, enquanto promessas, especialmente na área econômica, são esquecidas. O pleito municipal recente mostrou uma opção por mais moderação e menos beligerância. É um ponto de partida e um sinal que precisa ser compreendido. O reerguimento do país, com benefícios usufruídos por toda a população, depende da construção de pontes e da formação de consensos mínimos para remover os obstáculos para o progresso. Os brasileiros merecem uma década que, em vez de estagnação, seja sinônimo de prosperidade.