A percepção de que o Brasil está ficando para trás na corrida pelo progresso e avanço no bem-estar da população se materializou outra vez com os dados de 2019 do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), divulgado ontem. O ranking global do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) mostra que o país caiu cinco posições em relação a 2018. Entre 189 nações avaliadas, o Brasil ocupa o meio da tabela, no 84º lugar, atrás inclusive do Peru e de Cuba na América Latina. O índice nacional até subiu na passagem de 2018 para 2019. Foi de 0,761 para 0,765. Um avanço, mas a passos de tartaruga, levando o país a ser ultrapassado por outras nações que evoluem em ritmo mais rápido. A colocação brasileira, não há como negar, é medíocre e frustrante. Mas não deve ser motivo de desânimo. Pelo contrário. Tem de servir como um alerta que desperte e incentive autoridades públicas e sociedade civil para a necessidade de reagir e recolocar o país nos trilhos da prosperidade.
Pacificar o país, concentrar energias em reformas e focar em melhorar a qualidade da educação são as prioridades
O IDH avalia basicamente três pontos: renda, escolaridade e expectativa de vida ao nascer. Pelo lado econômico do indicador, a renda per capita teve uma melhora de US$ 14.068 para US$ 14.263, mas a análise de um período mais longo mostra a tragédia de uma segunda década perdida atravessada pelo país, após os anos 1980. Levantamento da Fundação Getulio Vargas divulgado ontem pelo jornal Valor confirma que o Brasil deve ter o pior decênio da economia em 120 anos. Entre 2011 e 2020, o crescimento médio do PIB nacional deve ser de apenas 0,2%, após uma sequência de anos com recessão entremeada com períodos de crescimento pífio, ao redor de 1%. No caso do PIB per capita, a projeção é ainda mais devastadora, com um recuo médio de 0,6%, semelhante ao recorte temporal entre 1981 e 1990.
Na escolaridade, o quadro também é dramático e indica estagnação. Pelo ranking, os brasileiros deveriam permanecer 15,4 anos na escola, mas na média o tempo de estudo é de apenas oito anos. Não será surpresa se resultados ainda mais amargos aparecerem nos próximos anos devido à evasão escolar causada pela pandemia, especialmente no ensino público.
O desempenho insuficiente confirma outros levantamentos que medem a qualidade da educação, com comparações com outros países. Na mais recente edição do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), o mais importante para a educação básica do mundo, aplicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em alunos de 15 anos de 79 países ou regiões, o Brasil também figurou em posição desonrosa. Praticamente estacionado nos últimos anos, o país permanece entre as 20 piores posições em leitura, ciências e matemática, fornecendo pistas de que uma nova geração vai chegar ao mercado de trabalho com níveis de aprendizado aquém do de jovens dos principais concorrentes globais.
Fazer o país acelerar o desenvolvimento humano e ganhar posições no ranking global depende de uma série de iniciativas que, por enquanto, são meras promessas e esperanças. Pelo lado da economia, o Brasil vive imerso em crises políticas sequenciais que minam a confiança de empresários e consumidores. Reformas basilares para melhorar o ambiente de negócios e tornar a máquina pública mais enxuta e produtiva patinam em meio à desarticulação do Planalto e a disputas internas no Congresso.
Na educação, são evidentes os sinais de que a pandemia deixará um legado nefasto na aprendizagem, com agravamento da desigualdade. Até agora, há poucos sinais consistentes de reação para começar a recuperar o terreno perdido. Não há mágica, assim como não há mais tempo a perder. Os resultados de que o Brasil precisa podem aparecer apenas em médio e longo prazos, mas para alcançá-los o mais rápido possível seria necessário plantar as sementes da mudança desde já. Pacificar o país, concentrar energias em reformas e focar em melhorar a qualidade da educação são as prioridades que podem servir de ponto de partida para o Brasil reacelerar e não aceitar a condição de um condenado a retardatário na maratona do desenvolvimento.