O dado concreto deve se sobrepor ao cansaço e inspirar atitudes: no último mês do ano passado, 1.857 gaúchos morreram em consequência da covid-19, o maior número desde o começo da pandemia. A consolidação dessa tendência de aumento de óbitos coincide, não por acaso, com o relaxamento dos cuidados que vinham garantindo, durante algum tempo, a estabilidade ou até mesmo a queda do montante de casos fatais. O que se vê, nesse começo de 2021, é tanto o poder público quanto uma parte da população caminhando na direção oposta à recomendada pela realidade das UTIs. Flexibilizações injustificadas de regras de distanciamento e demora na definição do plano nacional de vacinação configuram fatores decisivos na composição desse quadro alarmante. Diante dele, o que menos funciona é a política de avestruz, que esconde a cabeça na busca de uma sensação de segurança, mas deixa todo o corpo de fora e, desse modo, vulnerável.
O que menos funciona é a política de avestruz, que esconde a cabeça na busca de uma sensação de segurança, mas deixa todo o corpo vulnerável
A inquestionável realidade dos números deveria se sobrepor à gritaria ideológica e, tantas vezes, politiqueira. Não se trata aqui da defesa do fechamento irrestrito do comércio, dos serviços e das escolas, mas do respeito ao uso de máscara, do distanciamento mínimo entre as pessoas, da etiqueta respiratória e da aplicação de sabonete e de álcool gel nas mãos, práticas que vêm sendo cultivadas por uma parte substancial dos gaúchos. Mas nada disso adianta se esses cuidados não forem generalizados.
Enquanto em países da Europa e em regiões dos Estados Unidos os governos são obrigados a determinar novos lockdowns e restrições severas à economia, ainda temos a chance, por aqui, de evitar semelhante colapso. Para isso, a receita é simples, fruto de um aprendizado doloroso, mas consistente: é perfeitamente possível conciliar um mínimo de normalidade na vida das cidades com o combate ao novo coronavírus, sempre que isso seja verdadeiramente pensado e implementado tendo a vida como prioridade. Nesse sentido, vale, mais uma vez, destacar o papel dos empresários e dos trabalhadores que, juntos, empreendem esforços gigantescos para que os ambientes laborais se mantenham seguros, não apenas para quem neles garante o seu sustento, mas também para clientes e consumidores. Essa é a regra, que não pode ser derrubada pelas exceções irresponsáveis.
A piora dos indicadores da pandemia no Rio Grande do Sul se insere em um contexto amplo: em dezembro, o Brasil teve 65% mais mortes por covid-19 do que em novembro.
Desde o começo da pandemia, mais de 9 mil gaúchos morreram vitimados pelo vírus. Em todo o país, o número passa dos 190 mil. Frear a escalada de internações e óbitos não é missão a ser terceirizada, até porque as consequências da eventual omissão já chegaram ou chegarão, infelizmente, a cada um de nós.