O recorde de abertura de novas empresas, registrado em 2020 no Rio Grande do Sul, confirma a convicção de que a saída para a crise econômica passa pelo empreendedorismo. Dados da Junta Comercial, divulgados em reportagem de Zero Hora, revelaram que 196,3 mil novos negócios foram oficialmente iniciados no Estado durante o ano passado, o maior montante da série histórica que começou a ser monitorada em 2003.
Não há dúvida de que esse resultado tem como um de seus maiores motivadores as dificuldades econômicas geradas pela pandemia, que jogou milhares de gaúchos no desemprego. São esses, em grande parte, que apostaram na abertura de negócios próprios em busca de um futuro mais luminoso e da garantia imediata de sustento para suas famílias. Some-se a isso a tendência de contratar pessoas jurídicas, adotada por algumas empresas para conseguir manter suas operações em níveis de custo compatíveis com a retração imposta pelo novo coronavírus.
É como se, no Brasil, crescer fosse prenúncio de punição
Nenhum desses fatores que explicam o fenômeno retira, porém, a relevância da constatação de que abrir empresas e acreditar nelas é um sinal positivo para o Estado e para o Brasil. Justamente por isso, cabe aos governos simplificar ainda mais a vida
de quem decide correr riscos para gerar empregos, impostos e desenvolvimento. Nesse sentido, a isenção concedida pelo Piratini a quem quisesse abrir empresas, implementada em 2020, também contribuiu para que mais gaúchos fossem atrás de um CNPJ. Mas o caminho para a consolidação de um ambiente de negócios menos hostil ainda é longo e passa, necessariamente, por Brasília.
Em 2009, com a entrada em vigor da lei que criou a figura do microempreendedor individual, houve a simplificação burocrática e tributária para essa camada do tecido econômico.
O mesmo não aconteceu com as empresas de outros tamanhos, ainda embretadas em um cipoal de impostos confuso e injusto. É como se, no Brasil, crescer fosse prenúncio de punição. Por isso, é imperativo que o Congresso e o governo federal destravem, de uma vez por todas, a reforma tributária, novela sobre a qual atores em papel de protagonismo não cansam de reiterar suas boas intenções, até agora não traduzidas em ação concreta. Sem essa racionalização, milhares de brasileiros inspirados pelo esforço, pela fé e pela capacidade empreendedora continuarão a ser sufocados por máquinas públicas acomodadas em sua fúria arrecadatória.
Dados do IBGE revelam que, no Brasil, 60% das empresas fecham antes de completar cinco anos. Com investimentos em gestão, inovação, vontade política e poder de mobilização, é possível melhorar esse índice e, ao mesmo tempo, garantir que os negócios mais longevos cresçam e se perenizem. Essa é a melhor vacina contra crises.