É espantoso que, menos de um ano depois de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter proibido práticas como disparos em massa por WhatsApp e extração de informações de cidadãos em redes sociais, medida contemplada também pela já vigente Lei de Proteção de Dados, ainda surjam denúncias com indícios sólidos de empresas e candidaturas acusadas de recorrer a essa estratégia ilegal como forma de atingir um elevado número de votantes. Após a grande repercussão da utilização dessa artimanha na eleição de 2018, com investigações inclusive que buscam verificar um financiamento que poderia ser configurado como caixa 2,
O comportamento na busca pelo voto fornece pistas preciosas sobre como serão os candidatos, uma vez eleitos
imaginava-se o fim do oferecimento e da busca desse serviço, que burla as normas vigentes. Mas mal começou a campanha e o Ministério Público Eleitoral já está investigando, em São Paulo, empresas acusadas de operar irregularmente. É obrigação coletiva da sociedade estar atenta e denunciar violações à legislação.
O próprio eleitor precisa mostrar que preza por uma campanha limpa. O caminho para apontar irregularidades foi facilitado neste ano por meio de um formulário online criado pelo TSE para receber denúncias de disparos em massa, seja de propaganda eleitoral, conteúdo difamatório contra adversários ou teorias conspiratórias que estimulam a desinformação. O WhatsApp promete investigar se as contas violam as políticas do aplicativo e, se constatar burla, bani-las. Outras redes sociais se comprometeram, em tese, a fazer um esforço para limitar os chamados comportamentos inautênticos. É algo positivo, mas insuficiente, uma vez que insistem na tese de que não conseguem avaliar e remover todos os conteúdos enganosos.
Embora a desinformação ainda esteja disseminada, a Justiça Eleitoral tem feito, especialmente na preparação das eleições deste ano, um trabalho louvável para alertar e conscientizar a população sobre como identificar notícias falsas, a forma de agir quando deparar com elas e compreender os riscos de corrosão da democracia pelas fake news. Cabe ao eleitor, como interessado, ser um aliado, apontando as práticas fraudulentas.
A cada pleito o cidadão tem melhores condições e ferramentas para acompanhar e avaliar constantemente candidaturas, como as informações sobre arrecadação das campanhas e declaração de patrimônio. Ao longo da corrida eleitoral, os postulantes a cargos públicos deveriam sinalizar não apenas o que prometem para os seus municípios, nas prefeituras e nas Câmaras de Vereadores, mas como pretendem cumprir os seus compromissos. O comportamento na busca pelo voto fornece pistas preciosas sobre como serão, uma vez eleitos. Chegou a hora de o eleitor exigir, cada vez mais, campanhas limpas, em todos os sentidos.