São cada vez mais recorrentes e contundentes os alertas de especialistas, investidores, instituições financeiras e organismos, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), sobre os riscos crescentes de o Brasil estar se aproximando de uma crise fiscal mais grave diante do crescimento acelerado da dívida pública e da inação do governo e do Congresso quanto às reformas. O temor foi realimentado nos últimos dias pela percepção de que o Executivo, personificado pelo presidente Jair Bolsonaro, tem como prioridade encontrar uma saída para colocar em pé o Renda Cidadã, mesmo que isso signifique burlar o teto de gastos. Ao mesmo tempo, preocupa a nítida pouca disposição para cortar despesas.
O momento exige seriedade e comprometimento com o futuro do país, que deve estar sempre acima de interesses eleitoreiros
Em meio ao turbilhão de incertezas, surge ao menos a esperança de que o governo e o Congresso encontrem um consenso mínimo para tocar matérias de vital importância para a sanidade das contas públicas e para melhorar o ambiente econômico, como as reformas administrativa e tributária e as PECs emergencial e do Pacto Federativo. Após a temperatura subir na semana passada, com ataques mútuos, a trégua selada entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, deve servir para dar novo ritmo à tramitação dessas pautas no parlamento. É preciso que as lideranças responsáveis do país tomem as rédeas do processo. O calendário eleitoral, da mesma forma, não pode servir de desculpa para retardar o andamento de pautas essenciais para a solvência do Brasil. Tampouco diferenças pessoais devem se sobrepor aos interesses nacionais.
A gravidade do quadro pode ser compreendida por fatos como o real ser a moeda que mais se desvalorizou em 2020 no mundo, pelos avisos de que a dívida pública se aproxima do patamar de 100% do PIB, pela fuga de investidores estrangeiros, pelo renascimento da inflação e pela alta dos juros futuros, levando até a estimativas de que o Banco Central possa ter de subir a taxa Selic ainda neste ano. Os juros exigidos pelo mercado para financiar o governo vêm subindo de forma significativa, cristalizando a escalada da desconfiança em relação ao país.
Por qualquer ângulo que se olhe, a visão sobre o Brasil se torna cada vez mais crítica. Como sentenciou o FMI em relatório no início da semana, o país vive "riscos excepcionalmente altos e multifacetados". Diante desta encruzilhada, espera-se que o armistício entre Guedes e Maia de fato destrave o andamento das reformas e que governo e Congresso consigam criar uma fórmula para financiar o Renda Cidadã sem implodir o teto de gastos. O momento delicado exige escolhas difíceis, seriedade e comprometimento com o futuro do país, que deve estar sempre acima de picuinhas políticas e interesses eleitoreiros.