O fato de mais de 150 redações de todo o mundo, entre as quais GZH e Zero Hora, se juntarem neste 28 de setembro para demarcar o Dia Mundial do Jornalismo (do inglês World News Day) não é razão para comemorações festivas. Sempre que se cria uma data do gênero, é porque, de alguma forma, a sociedade se vê convidada a prestar atenção a um tema relevante e de interesse coletivo.
A atividade que apura e confere o que outros fazem, falam ou divulgam torna-se um bem mais essencial do que nunca
É o caso de hoje. Talvez nunca antes na história, o jornalismo esteve sob tal grau de ataque. Em muitos países, jornalistas e veículos são silenciados pela força da violência, da censura e das prisões, como ocorre rotineiramente no México, em Cuba, na China, na Turquia e na Venezuela, entre tantos outros. A esse modo clássico de impedir que as notícias e opiniões circulem, bloqueando o direito da população de se informar e formar seus próprios julgamentos, somam-se duas novas ameaças.
Numa delas, procura-se neutralizar o mensageiro por meio de sórdidos e anônimos movimentos de difamação a partir das redes sociais. Em grande medida, o objetivo dos fabricantes de desinformação é desmerecer notícias, denúncias e investigações que, de alguma forma, possam prejudicar seus objetivos políticos. Ao tentar abalar a credibilidade dos meios e dos jornalistas – o maior patrimônio de um veículo –, abre-se um campo fértil para a plantação de mentiras ou distorções com vistas a capturar a opinião pública. Na outra ameaça, o progressivo enfraquecimento ou desaparecimento de meios independentes, ou seja aqueles sustentados por assinantes ou receitas publicitárias, vem ampliando os chamados "desertos de notícias", vastas regiões do mundo, no Brasil inclusive, onde já não há mais jornalismo profissional. Nestas terras de ninguém, florescem as fake news e pseudojornalistas cujo objetivo central é defender objetivos partidários, quando não usar a artilharia digital para extrair vantagens indevidas.
É por isso que, muito mais do que os jornalistas, devem as sociedades registrar no calendário o World News Day. Uma sociedade sem jornalismo é presa fácil da desinformação e daqueles que fazem da improbidade sua profissão de fé. No sentido oposto, como demonstram as reportagens e notícias compartilhadas hoje pelos mais de 150 veículos, um jornalismo sério e responsável pode ter enorme efeito positivo multiplicador. Quando feito com idealismo e independência, o jornalismo se converte não apenas em narrador cotidiano da história mas também em um certificador da realidade.
Neste papel, o jornalismo, lastreado em técnica e fontes confiáveis, verifica declarações e supostos fatos que circulam por meios digitais e estabelece onde está a verdade. Nem sempre esta será uma atividade compreendida ou amada por todos, especialmente por aqueles contrariados pela exposição dos fatos. Mas em um novo mundo no qual quaisquer governos, partidos, organizações ou indivíduos, com boas ou más intenções, podem criar conteúdos e espalhá-los ao quatro cantos da Terra, o jornalismo que apura e confere o que outros fazem, falam ou divulgam torna-se um bem mais essencial do que nunca. É essa atividade, assentada em todo o mundo por valores e códigos de ética comuns, que está sendo justamente lembrada hoje – com liberdade, fatos e notícias verdadeiras, como deve ser