É fato que o Brasil e o Rio Grande do Sul avançaram nos três principais recortes analisados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), um dos principais indicadores da qualidade do ensino no país. Mas é algo a ser celebrado com comedimento. Os resultados ainda mostram uma melhora em velocidade muito aquém da necessária para fazer jus aos desafios que se impõem a uma nação que precisa diminuir a brutal desigualdade, se desenvolver e elevar o ritmo de crescimento. Os números nacionais apontam que o Brasil cumpriu a meta estabelecida apenas para os anos iniciais do Ensino Fundamental, mas não atingiu os níveis perseguidos nos anos finais do Fundamental e no Ensino Médio. No Estado, mesmo que se possa destacar uma melhora significativa no Ensino Médio em 2019 em relação à edição anterior, em 2017, nenhuma meta foi alcançada.
A despeito do avanço observado em nível nacional e local, os resultados do Ideb estão longe do satisfatório
A conclusão, portanto, é de que, a despeito do avanço observado em nível nacional e local, os resultados estão longe do satisfatório. Muito mais do que melhorar em relação a si mesmo, o que já é um bom ponto de partida, o Brasil precisa mirar a comparação com outros países. A realidade dos últimos anos é a de que, enquanto aqui a aprendizagem se aprimora a passos arrastados, lá fora os competidores abrem grande vantagem nessa corrida pelo progresso por terem despertado mais cedo e colocado em prática planejamentos sérios que visam preparar as suas futuras gerações para dominarem frentes de desenvolvimento como inteligência artificial, a tecnologia 5G e a economia 4.0. O cenário brasileiro ainda é desolador, com crianças e jovens presos a dificuldades em operações matemáticas básicas e interpretação de textos simples.
No caso do Rio Grande do Sul, é verdade que há um paulatino avanço nos resultados, mas ainda em marcha insuficiente. Não é possível se acomodar com os parâmetros atuais, ainda mais para um Estado considerado em décadas passadas um dos líderes em qualidade de educação, mas que hoje ocupa o meio da tabela no cotejo com seus pares.
As pequenas melhoras nos resultados do Ideb apenas confirmam a percepção da urgência de o país dar uma guinada no modelo de ensino para acelerar a evolução da aprendizagem. A Base Nacional Comum Curricular e a aprovação do novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) são pilares relevantes para esta necessária reviravolta. Mas é preciso mais. O que falta para o país – e para o Estado – não são necessariamente recursos, mas sobretudo gestão. O Brasil está entre as nações que mais investem na área na proporção ao PIB, mas isso não se reflete em um avanço condizente nos indicadores. Os resultados de unidades da federação como Ceará e Piauí, que estão longe do time de Estados mais ricos, comprovam que o volume de verbas, embora importante, não é decisivo. Um planejamento consistente tem de obrigatoriamente pensar em um ensino mais atrativo e que engaje os alunos, estimulando a aprendizagem. Neste sentido, ainda se espera um maior protagonismo do Ministério da Educação, com mais ideias que incentivem a aquisição do conhecimento e menos preocupação com questões ideológicas ou comportamentais.
A pandemia, com o afastamento dos estudantes das escolas, faz do Ideb de 2021 uma incógnita ainda maior. Chegou o momento de, mais do que olhar para a próxima avaliação, encontrar saídas para rever a arquitetura atual e começar a melhor preparar as crianças e jovens do Brasil para os desafios do presente e do futuro.