Após o tsunami de notícias desastrosas para a economia nos últimos meses, aos poucos, alguns indicadores sobre a atividade começam a apontar um refluxo, dando lugar a boas novas aqui e ali. Sabe-se que o estrago feito pela pandemia e a necessidade de isolamento social vão gerar uma forte retração do PIB em 2020, talvez plenamente recuperada apenas em 2022, mas alguns setores já mostram sinais consistentes de que deixaram o pior para trás e, de forma surpreendente, têm apresentado números até acima das projeções, renovando a expectativa de dias melhores para os gaúchos e brasileiros.
Mesmo com vários fatores que nublam o horizonte à frente, o setor privado cumpre a sua missão no reerguimento da economia do país
Ao mesmo tempo em que a quantidade de casos e de mortes de coronavírus dá indícios de arrefecimento, saem de segmentos como a agropecuária, o comércio e a indústria dados sobre produção, vendas e perspectivas que alimentam esperanças. No campo, anima a estimativa da Emater de que o Rio Grande do Sul pode colher, no próximo ano, uma safra 40% superior ao ciclo 2019/2020. Claro que uma boa parte deste salto percentual se deve à comparação com um período em que o Estado sofreu com uma seca severa e, de qualquer forma, o cálculo leva em consideração a inexistência de novos problemas climáticos nos meses mais sensíveis para as lavouras. Mas a disposição dos agricultores gaúchos de aumentar a área cultivada, incentivados pelos bons preços dos grãos, é uma demonstração inequívoca de que, a despeito de um ou outro ano ruim, há sólida confiança no futuro.
A indústria, um dos setores debilitados nos últimos anos no país, também demonstra novo fôlego. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que o país teve uma alta de 8% na produção das fábricas em julho. Foi o terceiro mês consecutivo de avanço. É claro que ainda está longe de recuperar as perdas acumuladas ao longo do ano, mas ao menos indica uma tendência de trajetória ascendente da atividade. O mesmo vale para a indústria gaúcha. A alta sobre julho foi de 7% e, assim como o país, o Estado teve o terceiro mês seguido de resultados positivos. É uma recuperação gradual, que igualmente está distante de zerar os prejuízos de 2020, mas merece certa comemoração, mesmo que cautelosa, pela persistência de incertezas à frente.
A reabilitação mais robusta, sem dúvida, ocorre no varejo, o mais beneficiado pelo auxílio emergencial. Além de emendar três meses seguidos de alta, o setor surpreende ao registrar elevação de 1,2% na receita nominal no acumulado de 2020, embora ainda tenha queda de 1,8% no volume de vendas. O setor de serviços, por outro lado, é o que mais padece com a pandemia, mas também indica alguma recuperação, com o segundo mês consecutivo de melhora do desempenho em julho.
As boas notícias, entretanto, não devem ser motivo de otimismo ufano. É preciso aguardar o impacto da redução do valor do auxílio emergencial, de R$ 600 para R$ 300. Quando a economia voltar a rodar sem a ajuda da verba alcançada pelo governo para dezenas de milhões de brasileiros, o desemprego continuará alto e o mercado de trabalho tende a demorar para recobrar forças. As sucessivas crises políticas geradas em Brasília são outro obstáculo. Mas, mesmo com vários fatores que nublam o horizonte à frente, o setor privado cumpre a sua missão no reerguimento da economia do país. Cabe aos governos em todos os níveis fazer a sua parte também, dando andamento às propostas de reformas e atenção à responsabilidade fiscal. Assim será possível pavimentar uma via capaz de dar um maior potencial de avanço da atividade nos meses e anos que estão por vir.