Enquanto são discutidas no Brasil e no mundo as melhores formas de proteger o bioma amazônico, mostra-se acertada a estratégia utilizada pela Advocacia-Geral da União (AGU) para buscar a punição de desmatadores e, de forma pedagógica, inibir novas ofensivas dos predadores da maior floresta tropical do planeta. Ao completar um ano de atividades, a força-tarefa criada pela AGU para combater a atuação de infratores na região contabilizou 45 ações civis públicas que já conseguiram o bloqueio de mais de R$ 570 milhões por desflorestamentos ilegais. O destino dos valores, ao fim dos processos, será a reparação dos danos ambientais.
A forma mais efetiva de coibir o desmatamento é atingir o bolso e o patrimônio dos transgressores
Assim como em outros tipos de crimes e contravenções, a forma mais efetiva de coibir o desmatamento é atingir o bolso e o patrimônio dos transgressores, uma vez que é exatamente o ganho financeiro que os move. A ação da AGU é altamente meritória e precisa chegar às últimas consequências legais com punições exemplares. Mas, diante da assombrosa extensão do delito cometido por desmatadores, atinge apenas uma pequena ponta do iceberg e é insuficiente diante das quantias e do tempo que seriam necessários para uma recuperação completa da vegetação original.
Pertence ao passado a época em que a defesa do ambiente ou da Amazônia em particular era considerada apenas um tema do interesse de ecologistas. A sustentabilidade é hoje percebida como um pilar econômico, inclusive para o agronegócio moderno do país. Não há mais tempo a perder para se engajar nesta causa, como aliás demonstra a ação inédita dos três maiores bancos privados do país na criação de um conselho consultivo para planejar e implementar medidas que promovam a conciliação entre desenvolvimento e preservação na Amazônia. A rastreabilidade, por exemplo, é uma necessidade urgente para separar as atividades responsáveis das inconsequentes, incentivando as primeiras e alijando do mercado as outras.
Esse conjunto de ações é ainda urgente para mitigar os estragos causados pela verborragia do presidente da República, Jair Bolsonaro, que, com sua visão de exploração da região digna do século 19, faz suas palavras serem compreendidas por grileiros, desmatadores e garimpeiros ilegais como um sinal verde para avançarem sobre a floresta com pouco receio de serem alcançados pela fiscalização e punidos pela Justiça. O resultado é o desastre da imagem externa do país, com o risco concreto de se transformar em boicotes.
Se o país – aí incluídos órgãos de Estado, sociedade civil e entidades empresariais – não der respostas rápidas e efetivas a esse problema, anulando gestos e manifestações presidenciais e de parte de seu governo, movimentos como o Defund Bolsonaro tendem a causar sérios prejuízos ao Brasil. Campanhas que visam alertar investidores e consumidores globais sobre a degradação ambiental incentivada pelo discurso oficial têm o potencial de machucar não só a reputação brasileira, mas impor perdas palpáveis para empresas e para a agropecuária consciente e preocupada com a sustentabilidade de suas atividades ao longo das próximas gerações.