A possibilidade de volta às aulas presenciais no Rio Grande do Sul, a partir do calendário elaborado pelo Piratini, deve ser cercada de todos os cuidados, com efeitos medidos passo a passo. Acerta o governo do Estado ao definir o retorno por município, para que localmente sejam analisadas as premissas atingidas e impedimentos, tornando o regresso gradual, parcial e voluntário. Apenas as regiões sob bandeira amarela ou pelo menos há duas semanas na cor laranja poderão avançar para mais esta flexibilização.
O monitoramento constante e rastreamento de casos serão condições basilares para que se possa corrigir caminhos ou interromper a tentativa de volta às aulas
A educação é, de fato, uma atividade de extrema relevância e o quadro atual, com aulas remotas, significa um imensurável prejuízo ao aprendizado, especialmente de crianças e jovens de famílias mais humildes, em que há maior dificuldade de acessar a internet e carência de aparelhos mais adequados para assistir às aulas e assimilar conteúdos. A volta às salas de aula, entretanto, é mais arriscada quanto menor a idade dos alunos, devido à dificuldade de manter o distanciamento e observar hábitos de higiene. E será exatamente a educação infantil, devido ao retorno dos pais ao trabalho, sem ter onde deixar os filhos, a primeira a poder reabrir as portas, a partir desta terça-feira, aumentando o desafio para evitar que as crianças se contaminem e levem o vírus para casa. Os protocolos a serem estabelecidos, portanto, precisam ser rígidos e seguidos, para que se mitiguem os riscos de novos surtos e do recrudescimento da pandemia.
As inúmeras incertezas que ainda persistem quanto ao coronavírus e as experiências de outros Estados e países fazem com que ainda não exista um manual pronto para a volta das escolas. Em alguns lugares, como Israel e Coreia do Sul, o retorno ao ensino presencial precisou dar passos para trás devido a contaminações. Em outros, o regresso às classes parece estar sendo mais bem-sucedido. A França precisou fechar algumas escolas apenas três dias após o início do novo ano letivo. A insegurança, portanto, é natural e quem defende ser um passo precipitado, como muitos pais e professores, tem suas razões, assim como os que avaliam ser a hora de dar início a esta nova etapa de reabertura.
O fundamental é que a cautela e a responsabilidade reinem neste momento e, reitera-se, as aulas voltem apenas onde existir um mínimo consenso entre autoridades, comunidade escolar e pais. Questões como rodízio dos alunos nas salas de aula, capacidade reduzida, distanciamento, regras para refeitórios, transporte escolar e preservação de professores e funcionários dos grupos de risco precisam ser severamente observadas. Assim como outras atividades que retornaram de forma paulatina, o monitoramento constante e rastreamento de casos serão condições basilares para que se possa corrigir caminhos ou interromper a tentativa de volta às aulas caso o planejamento não seja suficiente para deter o vírus nas escolas.