Mesmo em tempos normais seria trabalhoso realizar um debate produtivo entre 13 candidatos, pelos desafios técnicos e de roteiro, entregando aos eleitores a possibilidade de melhor conhecer as ideias e propostas daqueles que tentam conquistar seus votos. Mas o formato inédito e inovador do encontro organizado pela Rádio Gaúcha entre os postulantes à prefeitura de Porto Alegre, ontem pela manhã, no estacionamento do Grupo RBS, certamente entrou para a história do jornalismo por ser o primeiro conhecido em modelo de drive-in, com cada concorrente dentro de um veículo, sem contato com os demais, uma forma de proporcionar a esgrima de argumentos e projetos sem riscos sanitários. Apesar da complexidade tecnológica e operacional, o evento funcionou à perfeição. Infelizmente, o mesmo não se pode atestar em relação ao conteúdo emanado pelos candidatos.
As candidaturas ainda trazem poucas novidades e menos ainda propostas que poderiam ser consideradas consistentes
A largada na corrida à prefeitura da Capital mostrou que, de uma forma geral, as candidaturas ainda trazem poucas novidades e menos ainda propostas que poderiam ser consideradas consistentes para um projeto com visão de futuro para Porto Alegre. É inegável que, com 13 candidatos, não seria fácil extrair planos detalhados e sólidos, mas mesmo no pouco tempo disponível o que se viu pareceu a reprise de filmes do passado, com clichês, provocações, acusações e escassez de projetos capazes de gerar uma confiança que produza otimismo em um momento em que a população atravessa um período crítico causado pela pandemia, com consequências sociais, econômicas e educacionais sem precedente na historia recente.
Apesar da grande importância do tema, as formas de se lidar com os reflexos da crise do novo coronavírus na cidade foram apenas tangenciadas. Ao mesmo tempo, boa parte das perguntas ficou sem resposta porque muitos dos postulantes ao paço municipal preferiram recitar as suas pregações particulares, em vez de se ater ao que foi questionado. Viu-se também o velho vício de muito diagnóstico e poucas propostas palpáveis e, principalmente, exequíveis diante da dura realidade financeira de Porto Alegre e do país.
Embora ontem o conteúdo não estivesse à altura da engenhosidade e inventividade da Rádio Gaúcha para pôr o debate de pé sem riscos a candidatos e assessores, deve-se considerar também que foi o primeiro encontro coletivo da campanha, que se iniciou no domingo. Em benefício do esclarecimento do eleitor, que até novembro estará em busca da melhor opção, é de se esperar que as candidaturas evoluam na substância dos temas de interesse da sociedade e deixem discursos mofados e agressões de lado para se focar naquilo que realmente interessa: o que cada um pretende fazer para gerar, de fato, sem fantasias, mais saúde, educação, segurança, renda e, principalmente, um futuro animador pós-pandemia para Porto Alegre. Sem esquecer de explicar de forma convincente como será possível chegar lá.