Há exatos 20 anos, o Rio Grande do Sul preparava uma edição da Expointer planejada para ser a celebração da sanidade do rebanho gaúcho. O Estado, pioneiro no combate à febre aftosa no país, na década de 1960, esperava para os meses seguintes o reconhecimento internacional do status de livre da doença sem vacinação, uma condição que prometia abrir novos e importantes mercados para a carne gaúcha. Mas, quando os portões do Parque de Exposições Assis Brasil se preparavam para a abertura da feira, veio a notícia frustrante de que o vírus estava de volta em focos na pequena Joia, no noroeste gaúcho. No ano seguinte, novos surtos sepultaram o sonho que agora, duas décadas depois, recomeça a se materializar.
A vigilância, papel de técnicos, governo e também responsabilidade de produtores, é essencial para que o Estado mantenha o vírus distante do território gaúcho
O Ministério da Agricultura informou na terça-feira o reconhecimento do Rio Grande do Sul novamente como livre de febre aftosa sem vacinação e a próxima etapa, prevista para 2021, é a chancela pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Em um ano de extremas dificuldades, com a crise do coronavírus, tombo histórico da economia e uma seca avassaladora no Estado, a certificação concedida à pecuária gaúcha é uma conquista a ser celebrada por abrir novas oportunidades de acesso a mercados mais exigentes e que remuneram melhor pela carne que importam. O mérito precisa ser dividido entre produtores, autoridades ligadas à área de sanidade animal e entidades do agronegócio. É fruto de um enorme e paulatino esforço empreendido nos últimos anos de melhoria nos sistemas de vigilância do Estado, com recursos públicos e oriundos da iniciativa privada, com aquisição de equipamentos e contratação e treinamento de técnicos e auditorias feitas pelo ministério.
O novo status gaúcho, também conquistado por outros Estados, era até agora um privilégio de Santa Catarina, que ao longo dos últimos anos conseguiu exportar principalmente carne para países mais cuidadosos. Agora, com a retirada da vacina também no Rio Grande do Sul, os criadores do Estado, especialmente de suínos e bovinos, poderão exportar para até 70% do mercado mundial disponível, estima o secretário estadual da Agricultura, Covatti Filho. Será, sem dúvida, uma possibilidade que irá fortalecer ainda mais o setor de proteína animal no Estado, desde os criadores, passando pelos frigoríficos, até os prestadores de serviços dessa ampla cadeia. Apenas para a carne suína, estima-se que serão agregados mais de meio bilhão de reais anuais em negócios.
Apesar do avanço sanitário do Rio Grande do Sul e o reconhecimento do Estado pelo governo federal como livre de febre aftosa sem vacinação, será preciso conservar a guarda alta. A vigilância, papel de técnicos, governo e também responsabilidade de produtores, é essencial para que o Estado mantenha o vírus distante do território gaúcho. Assim será possível tirar de fato proveito do status privilegiado conquistando novos mercados e evitando novas decepções que, como testemunhado duas décadas atrás, poderiam levar a outros longos anos de trabalho duro para recuperar o terreno perdido.