A demissão da coordenadora-geral de Observação da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Lúbia Vinhas, é mais uma sabotagem ao esforço de segmentos do Brasil preocupados com a gravidade dos danos infligidos à imagem e à economia do país pelo descaso do governo Jair Bolsonaro com a política ambiental. Lúbia comandava exatamente a estrutura responsável pelos sistemas de monitoramento da Amazônia, região que a cada dia desperta maior preocupação local e internacional pelo avanço desenfreado do desflorestamento, como mostraram dados revelados na sexta-feira. Para piorar, a exoneração ocorre logo após representantes do Planalto se reunirem com investidores e empresários do Brasil e do Exterior que vêm demonstrando grande inquietação com o problema.
O Planalto cava um buraco cada vez mais fundo e difícil de ser revertido, com ameaças de prejuízos a produtores responsáveis, como os do RS
Como se estivesse cego e surdo à realidade, o governo decidiu lutar contra os fatos, aprofundando a perda de credibilidade. Para diferentes membros da administração federal, o desastre reputacional é um problema de comunicação ou fruto de interesses contrariados pelo país. Ninguém é ingênuo de imaginar que não haja contrariedades ao papel do Brasil – surpresa seria se, no comércio internacional, não as houvesse. Qualquer observador medianamente atento constata que o país experimenta um vale de lágrimas em sua comunicação direcionada aos brasileiros e ao público do Exterior. Mas os dois fenômenos só são reais porque há um terceiro: a inépcia e o desleixo em lidar com temas ambientais são concretos, palpáveis e visíveis a qualquer estrangeiro.
Desde que tomou posse, o governo vem minando as ações ambientais. Quem imagina que não haja contestação à liberação de mineração em terras indígenas ou ao apoio a uma lei que legaliza a grilagem desconhece inteiramente como funciona o mundo globalizado. O governo pode se jactar bradando que quem manda aqui dentro é ele, e está no seu direito. Mas, na mesma linha, o resto do planeta, incluindo os maiores mercados de consumo e as grandes empresas importadoras, também podem decidir que não vão mais adquirir produtos de um país que desrespeita o ambiente e, portanto, faz pouco-caso do futuro comum. Não é difícil adivinhar quem perde mais nesta queda de braço.
À pressão de investidores se soma agora um grupo de ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central que ontem lançaram uma carta conjunta chamando a atenção para a necessidade de as premissas da retomada da economia no pós-pandemia levarem em consideração as mudanças climáticas e uma atenção maior contra o desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Os signatários bem lembram que os custos da degradação ambiental no Brasil tendem a fazer estragos mais perenes na economia brasileira. De mais difícil reversão, portanto.
Mas causa perplexidade o negacionismo da realidade, que povoa inclusive discursos de dirigentes visivelmente preocupados, como o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro Paulo Guedes. Pode ser apenas uma cortina de fumaça, mas, aos olhos externos, o fato de não se reconhecer publicamente o tamanho do problema só o agrava. Ou seja, o governo vai cavando um buraco cada vez mais fundo e difícil de ser revertido, com ameaças de prejuízos inestimáveis a produtores responsáveis, como os do Rio Grande do Sul, que nada têm a ver com a leniência de Bolsonaro em relação aos depredadores da floresta. Não surpreende que os setores mais sensatos e responsáveis estejam angustiados com as ameaças que pairam sobre a economia brasileira.