Passaram-se três meses e meio desde o início das medidas de distanciamento social no Estado, mas é preciso manter e reforçar o chamamento pela unidade e pela disciplina. Neste período exaustivo, divergências naturais e novos obstáculos surgiram e foram contornados, enquanto os gaúchos vivem dias duros e angustiantes pelas preocupações com a saúde e com a economia. Todos os esforços, à luz da ciência, foram empregados pelas autoridades responsáveis para debelar o inimigo comum que já vitimou mais de 61 mil pessoas no país e outras 600 no Rio Grande do Sul. Embora ainda não tenha sido possível lograr êxito contra o insidioso vírus, o caminho adotado é o correto e é preciso perseverar nele, ainda mais quando surge o alerta de um perigoso aumento da ocupação de leitos de UTI por casos do novo coronavírus.
O tom grave do pronunciamento do governador Eduardo Leite na manhã de ontem mostrou que o Estado está em uma encruzilhada
Se reconhece o cansaço depois de mais de cem dias de afastamento de familiares e amigos e restrições de atividades e de circulação. Mas o momento desafiador exige que não se perca a confiança e não sejam jogadas fora as conquistas valiosas do Rio Grande do Sul ao longo do enfrentamento ao mais drástico evento sanitário e econômico em um século. Boa vontade, racionalidade, desprendimento, obediência às orientações e, sobretudo, a convergência sobre pontos mínimos necessários para os gaúchos ultrapassarem esta crise precisam ser preservados.
É nesta hora crucial, com toda a sociedade à prova, que é preciso demonstrar engajamento e união. Mais do que nunca. A chegada do frio mais intenso eleva a ameaça de sobrecarga dos hospitais. O tom grave do pronunciamento do governador Eduardo Leite na manhã de ontem mostrou que o Estado está em uma encruzilhada e, entre as direções que podem ser tomadas, uma tende a levar a um potencial descontrole da doença no Rio Grande
do Sul, com consequências ainda mais avassaladores na saúde e na economia. A outra, guiada pela gestão racional da pandemia, pede um pouco mais de compreensão e comprometimento de cada gaúcho para uma travessia mais segura. Na sua fala revestida de importância histórica, o governador ressaltou a necessidade de, nos próximos 15 dias, a população retomar os níveis de isolamento observados no início de abril, evitar de sair de casa, se possível, e não esquecer dos hábitos de higiene.
O plano de distanciamento controlado elaborado pelo governo gaúcho tem qualidade reconhecida. Foi copiado por Estados e aplicado em outros países. Mas não funciona sozinho. É importante, mais uma vez, apelar para que todos adotem seus preceitos. É em torno desse planejamento que os rio-grandenses – independentemente da posição social ou política – precisam cerrar fileiras. Ninguém deseja que se chegue ao ponto de um lockdown generalizado. Por outro lado, um relaxamento irresponsável tende a agravar o quadro sanitário, fazer estragos ainda maiores no tecido econômico em um prazo mais longo e potencializar feridas que demorarão ainda mais para cicatrizar. O julgamento da história costuma ser implacável.