A educação não é feita apenas do ensino de matemática, línguas, ciências, história e geografia. Sem precisar constar na grade curricular, a ética e a integridade são valores essenciais que precisam impregnar os alunos desde a mais tenra idade, por serem pressupostos básicos da vida em coletividade. Mas, para aprender esses significados e tê-los como norte nas relações com a sociedade, crianças e jovens precisam se mirar especialmente em bons exemplos. Sejam eles de professores, pais, líderes, sejam de governantes que se transformem em referência para aqueles que ainda se encontram na fase de formação de sua personalidade.
Se foi azarado no nome, espera-se que o presidente Jair Bolsonaro ao menos insista no perfil de alguém técnico e conciliador para a pasta
Todas essas condições básicas tornaram insustentável a manutenção de Carlos Alberto Decotelli no Ministério da Educação. O que parecia um currículo sólido mostrou-se um engodo, desmontado em poucas horas e, entre o seu anúncio para o cargo e a confirmação de que sequer tomaria posse, passaram-se apenas cinco dias. A falta de credibilidade foi fatal. Não restou alternativa após Decotelli ser flagrado em desvios éticos que inflavam seu histórico acadêmico. Tivesse sido honesto quanto à sua formação, sem maquiá-la para de forma indigna ganhar pontos entre seus pares, poderia ser um perfil bem-vindo para um ministério conflagrado e que tanto terreno tem a recuperar no país, ainda mais com todas as incertezas causadas pela pandemia do novo coronavírus, da realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) a uma solução para o ano letivo. Mas Decotelli foi pego no pecado da vaidade, prima-irmã do passo em falso da falta de ética, este sim um quesito que deve ser eliminatório para o preenchimento de cargos relevantes, sobretudo quando se trata de uma função pública importantíssima e que deve servir de espelho para milhões de brasileiros.
Do episódio infeliz, deve restar agora uma análise mais atenta da trajetória dos candidatos a assumir o MEC, ministério de fundamental importância para um futuro melhor para o Brasil e os brasileiros. Se foi azarado no nome, espera-se que o presidente Jair Bolsonaro insista no perfil de alguém técnico para a pasta. E que, além de conhecimentos robustos sobre o tema, tenha autoridade moral para servir de inspiração e uma índole aberta ao diálogo para pacificar relações com secretários estaduais, reitores e todos os atores vinculados à educação no Brasil. A experiência de Abraham Weintraub foi traumática e, para o bem do país e dos milhões de estudantes, não pode se repetir. É preciso, sobretudo, evitar alguém dogmático e que tenha a guerra ideológica como principal fator de motivação. O Brasil clama por um ministro que busque a conciliação e comece a formular, coordenar e colocar em prática políticas de ensino que tragam esperança e não condenem novas gerações de brasileiros a uma formação deficiente.