O isolamento aplicado ao Brasil até por seus vizinhos no Conesul do continente explicita a péssima imagem do governo Jair Bolsonaro no Exterior. Não se trata de uma desconfiança vinda de nações de Primeiro Mundo, mas de parceiros próximos e de longa data, como o humilde Paraguai, que vem tratando a luta contra o novo coronavírus de maneira séria e vê, no lindeiro gigante sul-americano, uma ameaça iminente pelo desdém com a crise sanitária. Da mesma forma, Argentina e Uruguai mostram preocupação e perplexidade devido à postura irresponsável do Palácio do Planalto. Na região, ao contrário, o que se constata é uma união majoritária de esforços para deter o vírus, e o resultado aparece em taxas de contágio e de mortes muito abaixo das registradas no Brasil.
É consenso que Bolsonaro virou um pária internacional e conseguiu esse feito até antes de a pandemia estourar
Temendo o ingresso de infectados, o Paraguai se viu obrigado a agir e cavou valas em trechos de fronteira seca para impedir a entrada de brasileiros. É uma verdadeira humilhação para o governo Bolsonaro e o Itamaraty comandado por Ernesto Araújo, que nas relações exteriores parecem se esforçar apenas para agradar aos Estados Unidos. Na fixação do Planalto de tentar sempre em primeiro lugar – acima de tudo e de todos – contentar a Casa Branca, sequer se percebe que até Donald Trump, ídolo de Bolsonaro, vem tentando erguer barreiras contra viajantes brasileiros, que de alegres e gastadores turistas se converteram, na visão de Washington, em um potencial risco adicional de transmissão do novo coronavírus nos EUA.
Muito pior do que eventuais erros de ministérios ou órgãos encarregados de políticas destinadas a mitigar a pandemia é a postura pessoal de Bolsonaro, completamente alheio ao sofrimento das famílias de vítimas, excetuando-se poucas declarações protocolares que nem sequer convencem quanto à sinceridade. Um exemplo desse procedimento insensível foi o passeio de moto aquática no dia em que o país ultrapassou a trágica marca de mais de 10 mil mortos pela covid-19. A imagem circulou e chocou o mundo.
Não adianta ministros competentes e generais se esmerarem em tentar consertar declarações e atitudes desastradas de Bolsonaro ou anunciar bilhões em programas de ajuda a empresas e cidadãos enquanto um tresloucado chefe da nação desfila publicamente seu desprezo e indiferença pelo drama de milhões de brasileiros e incita a polarização entre a população. Seriam apenas cômicos se não fossem trágicos, por exemplo, o constrangimento e a desorientação do ministro da Saúde, Nelson Teich, ao saber pela imprensa que o presidente havia liberado por decreto uma série de atividades, sem consultá-lo.
A imagem externa do Brasil está cada vez mais destroçada pelo desajuizamento do presidente, de quem todos os governantes responsáveis preferem manter prudente distância. É consenso que Bolsonaro virou um pária internacional. E conseguiu esse feito até antes de a pandemia estourar. Menções nada lisonjeiras são frequentes na imprensa internacional, inclusive em veículos especializados em finanças e negócios, que nada têm de esquerdistas. Suas maneiras e métodos são uma grave ameaça à recuperação econômica e moral do Brasil. Movidos pelo desprezo à ciência e por teorias conspiratórias insanas, o presidente, seus auxiliares ideológicos e os membros mais radicais da seita que o venera cegamente parecem trabalhar para liquidar o que resta de credibilidade do Brasil. Se for esse o objetivo, estão dobrando a meta.