Mesmo cercados pelas preocupações que emergem com a pandemia do novo coronavírus no Estado, os gaúchos acompanham consternados os desdobramentos das investigações sobre a morte de Rafael Mateus Winques, 11 anos, de Planalto, no norte do Rio Grande do Sul. A mãe do menino, Alexandra Dougokenski, 32 anos, confessou o crime, mas ainda sustenta que teria sido acidental, devido a uma dose exagerada de medicamentos que teria dado ao garoto, por estar muito agitado. A versão, entretanto, apresenta fragilidades, uma vez que a perícia inicial apontou estrangulamento.
A morte de uma criança pelas mãos de alguém muito próximo, ainda mais por uma mãe, perturba, intriga e une os gaúchos na repulsa a mais este crime bárbaro
Assim como teve a competência de desvendar rapidamente uma das principais perguntas sobre o crime ao confirmar a participação confessa da mãe, a Polícia Civil agora se debruça sobre uma série de pontos que ainda aguardam esclarecimento, como se ela agiu sozinha, a possível motivação de Alexandra, como era o relacionamento entre os dois e se o garoto foi realmente dopado.
Os novos depoimentos e o resultado dos laudos periciais certamente levarão as autoridades a elucidar as demais circunstâncias que precisam ser aclaradas em mais este caso perturbador. O crime de Planalto, mesmo com suas particularidades, guarda dolorosas semelhanças com o episódio do menino Bernardo Uglione Boldrini, de Três Passos, morto em 2014 também aos 11 anos. Como agora, o desaparecimento da vítima foi forjado e, da mesma forma, alegou-se depois o uso de medicamentos como causa da fatalidade. No caso Bernardo, a madrasta e o pai, entre outras pessoas, acabaram condenados.
A morte de uma criança pelas mãos de alguém muito próximo, ainda mais por uma mãe, perturba, intriga e une os gaúchos na repulsa a mais este crime bárbaro. A incredulidade e o choque não se resumem aos moradores do pacato município de 10 mil habitantes, uma comunidade como a maioria das cidades de menor porte do Estado, em que grande parte dos moradores se conhece e cultiva algum tipo de relação. Não há antídoto contra a perversidade humana e suas mais inconfessáveis motivações, mas o cultivo de valores salutares, da compaixão e das relações familiares sadias deve ser algo a ser perseguido por todos, incluindo a rede pública de proteção à infância e à adolescência, para que se possa evitar novas tragédias do gênero.
O menino tímido, que tinha facilidade com a matemática na escola, que sonhava em ser policial e vivia com a mãe e o irmão mais velho teve a vida precocemente interrompida por uma razão que ainda não se conhece. As peças que faltam para completar este trágico quebra-cabeças devem em breve ser encontradas e encaixadas pelos investigadores da Polícia Civil gaúcha, instituição que, mais uma vez, comprova a sua eficiência mesmo diante das limitações que enfrenta devido à crise do setor público do Estado.